21/09/2011 VALOR ECONÔMICO
Ontem, alguns contratos como janeiro de 2016 e janeiro de 2017 fecham com taxas não vistas desde o fim de agosto.
O que contribuiu para o movimento no dia foi o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) que surpreendeu para cima ao marcar 0,53% em setembro, depois ficar em 0,27% em agosto. Em 12 meses, a prévia da inflação oficial vale 7,33%, maior leitura desde meados de 2005.
Tal comportamento da inflação e também das expectativas, que seguem em alta segundo o boletim Focus, levam os agentes a adotar postura mais cautelosa com relação à estratégia e mesmo ao discurso do Banco Central (BC) de que a inflação vai convergir para o centro da meta de 4,5% em 2012.
De fato, o mercado mostra divisão desde a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de agosto, quando os juros foram reduzidos em meio ponto percentual, pegando economistas e mercado de surpresa.
Desde então, os agentes se dividem entre elogios e críticas à estratégia adotada pela autoridade monetária.
Para o chefe de economia e estratégia para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, é verdade que o BC está correndo risco com seu plano de voo atual, mas tudo indica que essa foi uma tomada de risco bem calculada.
Para chegar a tal conclusão, o especialista montou um modelo econométrico, combinando trabalhos do BC com alguns estudos feitos pela instituição.
A principal conclusão é que a inflação não escapa do teto da meta em 2012, mesmo se a autoridade monetária optar por corte de juros mais agressivo. Mas inflação em 4,5% também não está nos resultados.
O risco a tal resultado vem justamente do cenário externo. Se as coisas melhorarem por lá, a inflação poderia ultrapassar o teto da meta de 6,5%.
"Está claro que a velocidade de convergência da inflação está mais lenta. Agora, quão mais lenta? Isso depende do cenário externo", diz.
De volta ao modelo, o cenário base utilizado pelo banco pressupõe condições externas semelhantes às atuais, preço das commodities relativamente estável, taxa de câmbio em R$ 1,80, superávit cheio e corte adicional da Selic de 150 pontos-base até o começo de 2012. Com isso, a inflação de 2012 fica em 5,6%. A previsão anterior do banco era de IPCA em 4,9%, mas tal estimativa tinha sido feita antes do corte de juro do mês passado. Para 2011, a inflação esperada é de 6,4%, contra 6,1% na medição anterior. Para o PIB as taxas assumidas são 3,6% de crescimento em 2011 e avanço de 4,2% em 2012.
No cenário alternativo, o que muda é a visão externa. No caso de um choque internacional comendo 25% do PIB (algo citado pelo BC na ata da reunião), o IPCA encerraria o ano em 4,8%.
Em mais um exercício, Beker assume que o BC brasileiro pode seguir a rota do BC da Turquia. O caso brasileiro vem sendo comparado ao turco, que em 2008 aproveitou a crise para fazer forte redução de taxa básica.
Com as mesmas premissas do cenário base (menos o câmbio, que foi estimado, agora em R$ 2,0), mas com Selic a 8% no fim do ano que vem, o IPCA de 2012 ficaria em 6,8%.
Mantendo a Selic em 8%, mas contando com mais austeridade fiscal, a inflação seria de 6,3%. E se a piora externa for forte e as commodities caírem também, o IPCA ficaria em 5,8%.
Beker fez mais um exercício considerando uma "explosão" nas expectativas de inflação de 100 pontos base. O resultado é uma alta de 60 ponto a 70 pontos no IPCA de 2012 dependendo cenário adotado.
Segundo o estrategista, esse resultado evidencia duas coisas. Primeira, o controle das expectativas é fundamental. E o compromisso e entrega dos superávits fiscais tem papel determinante nisso.
Segunda, se o BC quiser seguir "a rota turca" as expectativas de inflação têm de estar muito bem ancoradas.
Com vimos acima, a previsão para o câmbio é de R$ 1,80 em 2012. Para Beker, o real não pertencia ao range de R$ 1,55 e R$ 1,60. A arbitragem com a moeda ainda é atrativa, mas as taxas menores somam ruído às operações com o real.
Fora que mesmo não sendo o objetivo do BC ao cortar a taxa de juros, o real mais fraco agrada ao governo.
Eduardo Campos é repórter