26/07/2011 O GLOBO
BRASÍLIA. A estratégia da equipe econômica para mostrar compromisso com uma política fiscal austera desacelerou fortemente os investimentos públicos em 2011, mas fez com que o superávit primário do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) acumulado em 12 meses até junho atingisse o recorde histórico de R$109,7 bilhões. Somente no mês passado, a economia para pagamento de juros ficou em R$10,5 bilhões, o melhor resultado já registrado para o período, quase três vezes superior ao de igual mês de 2010 - R$4,1 bilhões - e obtido, principalmente, graças ao crescimento das receitas. Segundo dados do Tesouro, a arrecadação de junho foi de R$69,7 bilhões, alta de 17,5% sobre 2010. As despesas foram de R$59,2 bilhões, alta de 7,05%.
- Temos obtido resultados fortes - disse o secretário do Tesouro, Arno Augustin.
No primeiro semestre de 2011, a economia de recursos feita pelo governo central para o pagamento de juros da dívida pública chegou a R$55,5 bilhões. Esse montante já supera a meta fixada pela equipe econômica para o superávit primário até agosto, de R$40 bilhões, e equivale a 68% da meta do ano, de R$81,7 bilhões. O montante também é o dobro do obtido no mesmo período no ano passado: R$24,9 bilhões.
De acordo com o relatório da Fazenda, as receitas cresceram 19,3% no semestre e chegaram a R$393,5 bilhões. Já as despesas ficaram em R$337,9 bilhões, com elevação de 10,8%. A moderação das despesas no primeiro semestre foi feita principalmente nos investimentos públicos, alta de 1,5% no acumulado do ano, enquanto os desembolsos com custeio da máquina cresceram 12,5%. Os gastos com pessoal também subiram bem acima dos investimentos, 11,3%, assim como aqueles com benefícios: 10,6%. Os dados da Fazenda mostram que os investimentos sofreram forte desaceleração: até janeiro, a alta era de 85,3%, caiu para 9,2% no acumulado até março e para 1,1% até maio.
Quadro diferente para o segundo semestre
Para o segundo semestre, Augustin disse que o quadro será diferente. Ele lembrou que existem despesas que vão impactar o primário e, por isso, não haverá sobra para uma economia muito acima da meta. Entre esses gastos estão R$1,9 bilhão de ajuda financeira que será repassada aos estados e R$3,5 bilhões relativos a sentenças judiciais.
- O investimento também voltará a crescer na segunda metade do ano e fechará 2011 acima do PIB nominal (em 12,3% no período janeiro-junho) - disse o secretário. - O primário no segundo semestre vai ser menor.
Para o economista da consultoria Tendências Felipe Salto, o bom desempenho da política fiscal nos seis primeiros meses do ano não significa que o governo tenha uma boa estratégia para o longo prazo:
- No segundo semestre, as despesas aceleram e a receita tende a crescer menos. O governo não tem estratégia de longo prazo. Ele pode até cumprir a meta fiscal de 2011, mas não vai conseguir fazer isso em 2012.
Ao ser perguntado sobre o desempenho do ano que vem, Augustin evitou entrar em detalhes, mas assegurou o compromisso com austeridade. Projeção de Salto publicada recentemente pelo GLOBO mostrou que já há um pacote de despesas de R$51,1 bilhões para 2012.