12/05/2011 JORNAL DO COMÉRCIO
Tucano é contrário à lista fechada e ao financiamento exclusivamente público de campanhas eleitorais
Guilherme Kolling
Tarso Genro e José Serra fizeram elogios mútuos ontemO ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), que disputou a eleição presidencial em 2010, defendeu ontem em Porto Alegre a inclusão do voto distrital para eleições parlamentares na reforma política que está sendo discutida no Congresso Nacional.
Para o tucano, o sistema atual é caro, enfraquece os partidos e distancia o eleitor do eleito. Ele entende que o novo modelo baratearia as campanhas, por definir um espaço onde os candidatos focarão sua propaganda, ao invés de percorrerem toda a cidade, no caso dos vereadores, ou todo o Estado, para os deputados.
Também avalia que os partidos sairiam fortalecidos, ao trabalharem suas bases eleitorais por área e ao evitarem a disputa por voto entre correligionários. E conclui que a cobrança da população seria facilitada, pela proximidade física entre o político e o eleitor.
"Mesmo como senador ou governador, as pessoas do bairro onde eu moro em São Paulo apelavam a mim quando tinham algum problema, como a construção de um prédio grande que eles eram contra. Isso porque o meu bairro, Alto de Pinheiros, não é representado por nenhum vereador", exemplificou, durante palestra na reunião-almoço Tá na Mesa, da Federasul.
Serra também informou que buscou dados em pesquisas sobre a lembrança do eleitorado e disse que elas apontam para um número espantoso: 70% das pessoas não lembram em quem votaram nas últimas eleições para vereador ou deputado.
"Isso acontece pela quantidade imensa de candidatos. Com o voto distrital, serão apenas cinco ou seis disputando, porque nem todos os partidos apresentarão candidato em cada um dos distritos. Porto Alegre, que tem 1 milhão de eleitores, seria dividida em áreas de 30 mil eleitores", estimou.
O tucano projeta que é possível aprovar até o início de outubro no Congresso - mais de um ano antes do próximo pleito - regras que entrem em vigor nas eleições municipais de 2012. E destaca o voto distrital.
"Seria um grande avanço. E se o modelo implementado tiver um resultado positivo, diminuem as restrições dos deputados, que temem exatamente a mudança das regras do jogo para um novo formato. Com isso, a tendência será usar o voto distrital também para as eleições de deputados", apontou.
Serra sugere que o voto distrital seja aplicado apenas em municípios com mais de 200 mil eleitores, que têm segundo turno. "Nas cidades menores fica mais fácil conhecer o vereador."
Citou ainda a possibilidade de adoção de voto distrital misto - em que são eleitos, além dos que receberem mais sufrágios por área, também os primeiros das listas partidárias -, embora tenha se manifestado contra o voto em lista fechada e a favor de voto distrital puro nas grandes cidades.
Ele ressalvou que aceitaria lista fechada no parlamentarismo, mas que no presidencialismo não acredita que, neste momento, o formato teria bons resultados. "Até por uma questão de cultura; hoje o voto é totalmente individual. Com as listas, as individualidades seriam anuladas, a exceção de duas ou três lideranças por partido. Então, seria uma mudança muito brusca."
Serra atrela o financiamento exclusivamente público de campanha à lista fechada e por isso manifestou ser contrário ao modelo. Disse que o sistema não evitaria a burla - busca de recursos privados ou públicos por fora, isto é, caixa-2 - e questionou como seria a distribuição do dinheiro.
"Imagino que cada candidato receberia o mesmo valor para disputar a eleição. Sem qualquer risco ou ônus e garantido o repasse de recursos, isso poderia causar uma ‘indústria de candidaturas' em busca desses recursos", criticou.
Ida de quadros do DEM para o PSD não ajuda oposição'
erguntas sobre o enfraquecimento da oposição, perda de quadros do DEM e do PSDB para o PSD, de Gilberto Kassab, pautaram a coletiva de imprensa de José Serra (PSDB), antes de sua palestra na Federasul. Na conversa de menos de 30 minutos com os jornalistas, o tucano arriscou apenas dizer que a perda de quadros do DEM para o PSD "não ajuda a oposição". Evitou analisar as declarações do ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen de que "há um vácuo na oposição" e que o espaço de "liderança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ainda não foi preenchido", nem disse categoricamente que não será candidato à presidência da República em 2014. Apenas descartou disputar a prefeitura de São Paulo em 2012. E disse que os boatos de que pretende se filiar ao PSD são fofoca. Na palestra, Serra ressaltou que a oposição é fundamental e que até eleitores da presidente Dilma Rousseff (PT) esperam que ela exista. "O problema da oposição não é ter perdido a eleição, mas não ter encontrado um caminho", admitiu.
Tucano e Tarso trocam afagos no Palácio Piratini
Durante sua passagem por Porto Alegre ontem, José Serra (PSDB) se reuniu com o governador Tarso Genro (PT). O tucano palestrou na Federasul e tomou um café com o petista no Palácio Piratini, no início da tarde. Convidado em cima da hora por Tarso - a visita nem estava na agenda do governador -, Serra compareceu ao seu gabinete acompanhado por deputados estaduais do PSDB.
Nos 20 minutos de reunião, ambos conversaram sobre reforma política e o governador comentou com o tucano sobre o clima político no Estado, que considera ser "muito bom, de muito diálogo".
Na saída, trocaram elogios mútuos na frente da imprensa. Serra disse que tem "muita satisfação" em visitar o petista. "Tarso Genro tem um peso importante como governador do Rio Grande e também no seu partido, que hoje tem o maior número de parlamentares no Brasil", declarou o tucano. Tarso lembrou que conhece Serra há tempo e que já conversou com ele em outras oportunidades. "Temos um respeito muito grande um pelo outro. É um quadro político inteligente e respeitável do País e sua visita valoriza nosso governo."
Questionado sobre as críticas de Serra ao governo Dilma Rousseff (PT) e à "herança maldita" de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - a inflação -, o governador Tarso Genro brincou: "Ele não comentou isso comigo. Se não, iríamos falar de heranças mútuas".
Serra chegou em Porto Alegre no final da manhã de ontem e regressou a São Paulo à tarde. Disse que não visitaria a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB) por falta de tempo. A tucana não compareceu à palestra do colega de partido na Federasul.
Serra atribui caso Azaleia à política cambial equivocada de Dilma
Depois de palestrar na Federasul, José Serra (PSDB) visitou o governador Tarso Genro (PT) no Palácio Piratini. Os dois trocaram elogios, apesar de terem ideias divergentes, o que foi evidenciado pela fala do tucano na reunião-almoço Tá na Mesa. Ele relacionou o fim das atividades da unidade da Vulcabrás-Azaleia, em Parobé, à política cambial e à taxa de juros do governo Dilma Rousseff (PT). Na véspera, Tarso havia feito duras críticas à Azaleia, por ter recebido incentivos fiscais do governo e ter fechado as portas.
"O Rio Grande é o maior prejudicado por essa política de juros altos e de arrocho cambial. Isso prejudica a indústria nacional. Aliás, o País já está no caminho da desindustrialização", criticou Serra.
O tucano classificou o governo Dilma como "hesitante" e disse que a petista recebeu "uma herança maldita" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), num quadro de aceleração da inflação. Também criticou a demora nas obras de infraestrutura e a piora no policiamento das fronteiras, por onde entram armas e drogas.
"Queremos respostas a essas questões. Quem está no governo tem que governar", resumiu Serra, que agradeceu aos gaúchos pela vitória no segundo turno da eleição presidencial de 2010, já que ontem foi sua primeira visita ao Estado neste ano.