31/01/2011 AE
Por Marcelo Rehder São Paulo, 30 (AE) - A importação cresce num ritmo nove vezes maior que o do Produto
Interno Bruto (PIB) da indústria nacional. Enquanto o PIB industrial aumentou 36% entre 2004 e
2010, a importação de produtos industrializados subiu 121,4%, segundo a Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Em seis anos, a exportação de industrializados
recuou 4,8%. "Quando se nota ao longo do tempo que a importação cresce e a exportação cai,
significa perda de competitividade", diz Mário Bernardini, diretor da Abimaq.
São muitos os exemplos de empresas que pagam alto pela conta desse processo. A Paletrans é
praticamente o último fabricante que restou no mercado brasileiro de transpalet manual, um
equipamento hidráulico para movimentação de mercadorias em supermercados. Outras dez empresas que
atuavam no segmento jogaram a toalha nos últimos seis anos depois de serem nocauteadas pelo preço
baixo dos produtos estrangeiros. Uma delas ainda tem produção local, mas traz boa parte dos
equipamentos do exterior.
"Enquanto eu gasto R$ 230 só de matéria prima, o equipamento chinês sai da fábrica por U$ 110 a
unidade", queixa-se Lineu Matos Camargo Penteado, presidente da Paletrans. "O produto estrangeiro
chega ao cliente final no Brasil por R$ 500 a R$ 600. Eu não consigo oferecer o meu para esse mesmo
cliente por menos que R$ 700." A participação de equipamentos chineses se alastra no mercado
nacional. Há seis anos, eles detinham apenas 2% das vendas. Hoje, já respondem por quase 40%. Em
2010, foram vendidas 60 mil unidades no País, entre importados e nacionais. "Só a minha empresa
fabricou 35 mil, mas o crescimento dos chineses é assustador", afirma Penteado.
Com fábrica em Cravinhos (SP), a Paletrans já foi líder de vendas em países latinos como Argentina
e Venezuela. Em 2003, a empresa exportava 30% de toda a produção - hoje esse número não passa de
0,2%.
"O problema é o câmbio, porque o custo Brasil nós sempre tivemos e ele não melhorou, mas também não
piorou. Já a valorização do real é brutal", argumenta o empresário.
Diferença. Dados do Ministério do Desenvolvimento levantados pela Abimaq mostram que é grande a
distância entre o preço de máquinas e equipamentos nacionais dos importados. O quilo de produtos
como válvula tipo gaveta sai aqui por US$ 53,30, enquanto na Alemanha é US$ 35,8 e na China, US$
4,95.
Em seis anos, a produção de máquinas e equipamentos cresceu 30%, menos que a metade do consumo, de
76,5%. A exportação caiu 21% e a importação avançou 167%.
A falta de competitividade do produto nacional é problema até para quem quer exportar a preço de
custo. A Polimold, que fabrica porta-moldes para indústria de ferramentaria em São Bernardo do
Campo, no ABC paulista, sente isso na pele. Em menos de quatro anos, as vendas externas da empresa
caíram pela metade.
"Há poucos dias recebi uma proposta interessante de exportação para a Turquia", conta Alexandre
Fix, um dos sócios da Polimold e presidente da Câmara Setorial de Ferramentaria e Modelação da
Abimaq. "Resolvemos mandar nosso preço de custo porque sabíamos que, se não fosse assim, teríamos
dificuldades. Mas não levamos: o turco disse que teríamos de reduzir o preço uns 20% a 30%." O
contrato previa a exportação de 70 toneladas de placas de moldes por mês por quase um ano. Para se
ter uma ideia, a Polimold, considerada uma das maiores empresas do setor da América Latina, fabrica
mil porta-moldes por mês. "Os turcos estavam comprando algo entre 15% a 20% disso." "Essa situação
não é de hoje, embora muita gente só tenha acordado agora para o fato", diz o presidente de uma
empresa que fechou a fábrica de componentes eletrônicos na Zona Franca de Manaus. Só nos últimos
três anos mais de uma dezena de fabricantes seguiram o mesmo caminho. O empresário diz que o
fechamento de uma unidade dificilmente tem volta, pois significa que "os acionistas não acreditam
mais no negócio".