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26/01/2011 AE
Os bancos não demoraram para reagir às medidas do BC
Os bancos não demoraram para reagir às medidas do Banco Central (BC) que restringiram o crédito em dezembro e, além de reduzir ritmo de concessão de
empréstimos, elevaram com força as taxas de juros cobradas aos consumidores, que retornaram ao patamar da crise internacional de 2008 e 2009. Em janeiro, até o dia 12, os juros médios cobrados das pessoas físicas já chegavam a 45,1% ao ano, salto de 4,5 ponto percentual sobre dezembro, que, por sua vez, já havia registrado elevação de 1,5 ponto sobre o mês anterior. Trata-se do maior patamar desde junho de 2009, quando estavam em 45,6%.
Para as empresas, as taxas médias cobradas também subiram neste mês, de 27,9% para 29,4% ao ano, perdendo apenas para a taxa de fevereiro de 2009 (30,9% anuais). Pior: segundo analistas, essa tendência de alta deve se manter por causa do ciclo de aperto monetário, iniciado na semana passada pelo BC, também reduzindo as concessões, prazos e podendo elevar a inadimplência das famílias. — Sem dúvida há o impacto das medidas macroprudenciais tomadas em dezembro — reconheceu hoje o
chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
No fim de 2010, o BC divulgou uma série de ações que encareceram o crédito de consumo de longo prazo, como o usado para a compra de automóveis, além de ter elevado os compulsórios bancários (parcela dos recursos dos bancos que fica presa na autoridade monetária). O objetivo foi reduzir o risco de inadimplência e ao mesmo tempo frear o consumo e atenuar a pressão inflacionária. Lopes reconheceu, ainda, que a elevação da taxa básica de juros, de 10,75% para 11,25% ao ano, decidida na semana passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), também vai piorar o cenário para o consumidor. A Selic serve de parâmetro para os custos de captação dos bancos e, na avaliação
do mercado, chegará a 12,25% ao ano em abril.
Para o economista da Tendências Alexandre Andrade, esse encarecimento do crédito levará a um aumento da inadimplência dos consumidores no curto prazo para, somente depois, começar a arrefecer novamente. Para pessoas físicas, por exemplo, ele acredita que chegará a 6,7% neste ano, um ponto percentual sobre o número de dezembro passado. Lopes, do BC, argumenta que vê apenas uma "estabilização" da inadimplência, que vinha em trajetória de queda desde meados de 2009. Mas dentro da equipe econômica já há avaliações de que os calotes podem crescer no curto prazo.
Segundo dados do BC, a inadimplência das famílias fechou dezembro em 5,7%, a menor desde julho de 2001, quando estava em 5,5%. Há um ano, ela era de 7,5%, deixando claro a tendência de queda pós-crise. Para as empresas, os atrasos acima de 90 dias no pagamento ficaram estáveis em 3,6% no mês passado, mas com uma ligeira queda de 0,2 ponto no ano.
Com juros mais altos, o BC já detectou também uma redução nas concessões de crédito: em janeiro, até o dia 12, haviam caído 8% em média, sendo que para as famílias o tombo foi de 3,5% e para as empresas, de 11,3%. Neste último caso, a queda foi mais acentuada pela sazonalidade, já que as pessoas jurídicas costumam antecipar o capital de giro para dezembro por causa das festas de fim de ano. As modalidades que mais devem sofrer com o pé no freio são os CDCs para veículos e bens duráveis,
além do consignado. Neste caso do desconto em folha, 88% do volume emprestado têm prazo superior a 36 meses — afetado, portanto, em cheio pelas medidas recentes do BC. A autoridade monetária informou ainda que os spreads bancários — diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final, onde estão embutidos desde o risco de inadimplência até o lucro das instituições — para pessoas físicas cresceram 4,4 pontos, para 32,9 pontos percentuais, enquanto para as empresas a alta foi de 1,4 ponto, para 18,4 pontos percentuais.
O volume total de crédito no país fechou 2010 em R$ 1,704 trilhão, com alta de 20,5% no ano, o equivalente a 46,6% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Para 2011, o BC calcula, pelo menos por enquanto, uma expansão de 15% no volume de crédito, que chegaria assim a 50% do PIB.
O grande destaque neste ano será o crédito voltado para o financiamento imobiliário, prevê o BC, dando continuidade ao movimento visto em 2010. Ao todo, essa modalidade de empréstimo corresponde a 3,8% do PIB e, somente para pessoas físicas, o estoque chegou a R$ 138,746 bilhões no ano passado, com salto de 51%. Para as empresas, que incluem construturas e imobiliárias, entre outros, o crescimento ficou em 36,3% no ano até novembro, chegando a R$ 49,213 bilhões, último dado disponível.
Texto de Patrícia Duarte