20/01/2011 AE
A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no governo da presidente Dilma Rousseff e sob a batuta de Alexandre Tombini, realizada hoje, não vai agradar ao consumidor brasileiro. Em decisão unânime, a taxa básica de juros do país passou de 10,75% para 11,25% ao ano, o maior patamar em quase dois anos, encarecendo a concessão de crédito. A elevação — a primeira em seis meses, para conter a inflação em alta herdada do governo Lula — era amplamente esperada pelos agentes econômicos. Por isso, esperam mais aumentos daqui para a frente, pelo menos até abril. No comunicado após a reunião de hoje, que durou quase quatro horas, o Copom afirmou que está começando um ciclo de alta dos juros. Mas o ciclo talvez não seja tão intenso quanto parte do mercado passou a achar nesta semana. Isso porque o texto da nota oficial indicou que, para o Banco Central (BC), o aperto na política monetária começou em dezembro, quando foram elevados compulsórios e baixadas medidas para frear o crédito.
Em nota, o colegiado informou que a elevação de ontem deu "início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas." — O recado é o de que o aperto não deve ser composto de muitas altas de juros. O Copom colocou um pouco de água na fervura — afirmou o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, que acredita em mais duas altas de meio ponto percentual em março e abril, para 12,25% ao ano, mesmo projetado por boa parte do mercado. Ao elevar a Selic, o Copom também encarece as taxas de juros cobradas dos empréstimos às famílias e empresas, inibindo o consumo. Desta maneira, retira boa parte da pressão inflacionária, que é o objetivo do BC. O mercado, pela pesquisa Focus da autoridade monetária, prevê o IPCA — índice que orienta o sistema de metas de inflação — neste ano a 5,42%.
Há um mês, projetava 5,29%, mostrando que, cada vez mais, distanciam-se do centro da meta de inflação do governo, de 4,5%. O economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, também concorda que o ciclo de aumentos da Selic pode ser um pouco menor, chegando a 12,25% anuais. Ele lembrou que, em dezembro passado, o BC retirou R$ 61 bilhões no mercado por meio de compulsórios bancários — parcela dos recursos dos bancos que fica presa na autoridade monetária, sem remuneração — e definiu medidas restritivas na concessão de crédito de longo prazo voltado para consumo de bens duráveis, como automóveis. Muitos entenderam que, na prática, o novo ciclo de aperto monetário do BC teve início naquele momento.
— Espera-se ainda que o governo faça um esforço fiscal maior este ano, também reduzindo a demanda — acrescentou Teles, referindo-se ao superávit primário, que é a economia feita pelo setor público para pagamento de juros e que, na avaliação do próprio BC, deve corresponder subir um ponto percentual do PIB em 2011.
Tombini repetiu hoje o movimento feito pelo seu antecessor, Henrique Meirelles, que, quando assumiu a autoridade monetária em 2003, no início do governo do ex-presidente Lula, elevou a Selic em meio ponto. Mas, daquela vez, ela foi para 25,50% em meio a uma crise de confiança que assolava o país, bastante diferente do momento atual.
A fonte de pressão mais importante para a inflação, dizem analistas, são as "commodities" (matérias-primas), como alimentos, cujas cotações são definidas no mercado internacional. Além disso, pesa o ritmo de crescimento do país, que em 2010 estima-se ter sido de 7,5%, com a demanda mais forte que a oferta.
— Não estamos vendo apenas piora da inflação corrente, mas também nas expectativas. O Copom acertou — afirmou o economista do banco Santander Cristiano Souza, para quem a taxa poderá fechar o ano a 13%. Mas, ao mesmo tempo em que controla a inflação, a elevação da Selic, e a expectativa de que esta tendência continuará nos próximos encontros do Copom, pode trazer consequências para o câmbio, atraindo mais investidores estrangeiros para ganhar dinheiro aplicando em juros, o que alimenta a valorização do real frente ao dólar. Tudo que o governo não deseja. A elevação da Selic foi duramente criticada por empresários e dirigentes sindicais. Um mal começo, foi como resumiu a decisão o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Segundo ele, a alta de 0,5 ponto foi um erro, pois vai elevar em R$ 200 bilhões a conta de juros do governo.
— Isso é um absurdo. Com esse dinheiro poderíamos viabilizar a construção de mais de 390 mil casas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, ou dois terços de todo orçamento anual do Bolsa-Família — disse Skaf. O gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, disse que o aumento foi precipitado e compromete o crescimento do país. De acordo com ele, os efeitos das medidas de contenção do crédito adotadas em dezembro ainda não foram plenamente observados. Já para o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, não há justificativa para manter juros tão altos no país.