04/01/2011 O ESTADO DE SÃO PAULO
Vera Rosa
O novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, revelou ontem que a presidente Dilma Rousseff está preocupada com o impacto da taxa de câmbio sobre as exportações brasileiras e admitiu a necessidade de desonerações setoriais de impostos, para compensar a indústria nacional.
Após uma concorrida cerimônia de posse, Pimentel disse que Dilma pediu um "coro afinado" na equipe econômica. Além disso, a presidente pôs na lista dos desafios do novo governo o enfrentamento da guerra cambial. "O governo não vai ficar passivo, inerte, assistindo à nossa moeda se valorizando e a nossa indústria sendo prejudicada", insistiu.
Cortes setoriais. Embora o novo ministro não tenha mencionado os setores que serão beneficiados com o corte de impostos, o governo estuda contemplar aqueles que mais sofrem com a concorrência dos importados, como, por exemplo, móveis, calçados e têxteis.
"Vamos tomar as medidas necessárias para proteger a nossa indústria", garantiu o novo titular do Desenvolvimento. "Os setores mais sensíveis terão de receber atenção maior."
Ao receber o cargo ocupado desde 2007 por Miguel Jorge, Fernando Pimentel cobrou a redução das taxas de juros e disse que a tesourada pretendida pelo governo exigirá um esforço de disciplina fiscal, definida por ele como "tarefa de delicada engenharia econômica e política". Horas mais tarde, o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a subida dos juros não deve ser vista "com alarde".
Diante de uma plateia formada por políticos e empresários, Fernando Pimentel criticou a carga tributária elevada no País e pregou mais investimentos públicos em infraestrutura. "Há uma evidente guerra cambial mundialmente aberta, com reflexos na nossa balança comercial e efeitos perversos nas nossas indústrias", observou o novo ministro. Foi muito aplaudido pelos presentes.
Economista, ex-prefeito de Belo Horizonte, amigo de Dilma desde os tempos da juventude, Pimentel ressalvou, porém, que o governo não pretende alterar o regime de câmbio flutuante. E comparou o atual modelo de câmbio à dança dos "patinhos de borracha".
"Para uma pessoa leiga, o câmbio flutuante é um grande navio, como o Titanic, flutuando nas ondas, mas, na verdade, trata-se de uma porção de patinhos de borracha espalhados na mesma onda."
Foi com essa analogia que Pimentel explicou como o governo federal pretende cortar impostos de determinados setores da economia. "Se você desonera, tira o peso do patinho que está embaixo e ele sobe mais. No médio e no longo prazo, é possível colocar um motorzinho nesse patinho para ele nadar", concluiu.
Conselho. Dilma deve chamar o conselho de ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) para uma conversa ainda neste mês. Na prática, a presidente quer ter uma orientação mais direta sobre a Camex. "Trata-se de um instrumento muito importante para que a equipe fale a mesma língua", comentou o ministro.
Logo que Dilma convidou Pimentel - seu ex-companheiro de organizações de extrema esquerda - para assumir o Ministério do Desenvolvimento, fez a ele uma advertência: "Não se esqueça: o nome do jogo é competitividade." / COLABORARAM CÉLIA FROUFE E EDUARDO RODRIGUES