Com maioria relativamente tranquila na Assembleia, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), espera um "alto astral" na relação com o parlamento em 2011. A partir das negociações que iniciaram logo após a eleição no primeiro turno e ampliaram a composição do governo para além da coligação original com o PSB e o PCdoB, ele terá uma base formada por 31 dos 55 deputados estaduais, o que deverá facilitar a aprovação dos primeiros projetos previstos pelo petista.
Temas mais complexos, como alterações de alíquotas de ICMS e a reforma da Previdência do funcionalismo com a criação de um fundo complementar de aposentadoria, serão submetidos antes ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que seguirá os moldes do "Conselhão" coordenado por Genro no primeiro mandato do governo Lula. Nesses casos, o plano é blindar previamente o governo contra os prováveis ataques da oposição.
O governador eleito garantiu que não vai aumentar a carga tributária total, mas admitiu o "deslocamento de alíquotas de um campo para outro". Tentativa similar havia sido feita pelo ex-governador petista Olívio Dutra (1999-2002) que, com minoria na Assembleia, viu o projeto naufragar. Genro não detalhou quais setores poderiam ser mais ou menos tributados e disse que a proposta só será levada adiante se obtiver "consenso" no CDES, formado por representantes de diversos segmentos.
À Assembleia, Genro vai encaminhar projetos como o que restabelece o Simples Gaúcho, que vigorou no governo Germano Rigotto, do PMDB (2003-2006), e reduz as alíquotas de ICMS para pequenas empresas, e o que anistia dívidas de até R$ 3 mil de pequenos produtores rurais com o Banrisul. Essas propostas serão enviadas logo após a posse dos novos deputados estaduais, em 1º de fevereiro,
Genro pretende extinguir perto de 150 cargos em comissão para compensar um aumento salarial a coordenadores e gestores de órgãos estaduais, que hoje chegam a ganhar R$ 1,3 mil por mês. Ao mesmo tempo, tentará limitar ao seu salário, de R$ 17 mil, os vencimentos de diretores de estatais. Levantamento da equipe de transição concluiu que há executivos que recebem cerca de R$ 30 mil mensais.
Conforme o futuro secretário da Fazenda, Odir Tonollier, nos próximos meses o governo deverá encaminhar ao Legislativo uma proposta de reformulação do programa estadual de incentivos fiscais, o Fundopem. O objetivo será ampliar controles sobre as contrapartidas ambientais e de geração de empregos exigidas das empresas, desenvolver setores econômicos estratégicos e reduzir desigualdades regionais, além de proteger empresas já instaladas no Estado.
A base política do governador eleito será formada por 14 deputados do PT, sete do PDT, seis do PTB, três do PSB e um do PCdoB. Em troca do apoio, todos os partidos ganharam postos no primeiro escalão. Os petistas ficaram com o maior número: 16, seguidos pelo PTB e pelo PDT, com três cada, pelo PCdoB, com duas, e pelo PSB, com uma - além do vice-governador Beto Grill.
O PT ocupará as secretarias do "núcleo gestor" do governo (Secretaria Geral, Planejamento, Comunicação, Chefia de Gabinete, Assessoria Superior do Governador e Casa Civil) e terá as pastas da Fazenda, Educação, Agricultura, Desenvolvimento Rural e Cooperativismo, Segurança, Justiça e Direitos Humanos, Habitação e Saneamento, Mulheres, Administração e Recursos Humanos e a Secretaria Executiva do CDES.
O PDT, que na eleição estava coligado com o PMDB e depois aderiu ao governo petista, ficará com as secretarias da Saúde, do Esporte e Lazer e o Gabinete dos Prefeitos. O PTB, que não se coligou para a eleição majoritária, levou as pastas do Trabalho, de Obras e Irrigação e da Economia Solidária.
O PCdoB e o PSB, coligados do PT na eleição, ficaram com as menores fatias. O primeiro obteve as secretarias do Turismo e do Meio Ambiente, enquanto o PSB ficou com a pasta de Infraestrutura e Logística. Em compensação, ambos esperam o apoio do PT na eleição para a prefeitura de Porto Alegre, em 2012, e contam com nomes como o da deputada federal Manuela D"Ávila (PCdoB) e do deputado federal e futuro secretário da Infraestrutura, Beto Albuquerque (PSB). "Essa possibilidade está aberta", confirmou Genro. Hoje, a prefeitura é comandada por José Fortunati (PDT), que assumiu quando José Fogaça (PMDB) renunciou para concorrer ao governo.
Mesmo assim, o PSB tratou de deixar clara sua insatisfação no primeiro teste da futura bancada governista, neste mês. Durante a votação de projetos encaminhados pela governadora Yeda Crusius (PSDB) a pedido de Genro para adequar a estrutura do Estado aos planos do PT (incluindo a criação do CDES e da nova pasta de Desenvolvimento), dois deputados do PSB permaneceram fora do plenário no momento da verificação do quórum e tiveram que ser convencidos a votar pela coordenação da bancada petista. No fim, os projetos do futuro governo foram aprovados com folga.