01/10/2010 O ESTADO DE SÃO PAULO
Vídeo gravado em 3 setembro e divulgado ontem mostra uma conversa do ex-senador e ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC) com o advogado Adriano Borges - genro do ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal. Na gravação, Roriz aparece discutindo a contratação de Borges para defendê-lo no julgamento da Lei da Ficha Limpa no STF, com o objetivo de interferir no resultado.
No vídeo, Roriz (então candidato ao governo do Distrito Federal) sugere que a contratação de Borges obrigaria Ayres Britto a se declarar impedido de votar - o que, na prática, decidiria o julgamento a seu favor.
"Com isso eu ganho... folgado", afirmou na conversa com Adriano Borges. Em seguida, o genro do ministro confirma que, assim que fechassem um contrato, Britto - um dos principais defensores da aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa - estaria automaticamente fora do julgamento.
A estratégia de Roriz, porém, não foi levada adiante: Borges acabou não assumindo a causa, Ayres Britto votou pela aplicação imediata da Ficha Limpa e Roriz teve de desistir da disputa, diante do empate do julgamento da semana passada no STF.
O vídeo, divulgado ontem pelo portal iG, foi gravado no escritório da residência de Roriz e teve trechos editados. O diálogo é truncado, com frases incompletas e dúbias, principalmente no trecho em que os dois discutem o afastamento de Ayres Britto do julgamento e negociam o pagamento dos honorários e de um pró-labore para Borges - no total de R$ 4,5 milhões. Roriz adianta que, se não houvesse decisão do STF, ele renunciaria à candidatura, o que foi feito na semana passada. Em seu lugar, ele colocou sua mulher, Weslian Roriz, para disputar a eleição para o governo do DF.
Consciência. O ministro Ayres Britto mostrou-se abalado com as negociações feitas pelo genro. "Só o Adriano não percebeu que estavam procurando ele porque queriam me tirar. Deveria ter percebido de cara", afirmou. "A situação é péssima, mas a consciência está ótima. Porque, numa hora dessas, nós temos dois confortos: a consciência e a vida pregressa, a minha história de vida."
Além dessa estratégia, aliados de Roriz conversaram com outros ministros do Supremo, que votaram a favor de sua candidatura. Fizeram chegar a informação de que ele renunciaria caso o processo não tivesse uma definição.
Num trecho, o nome do ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, é citado. Os dois conversam sobre a necessidade de Lewandowski mandar para o STF o recurso de Roriz contra a aplicação da Ficha Limpa. Por intermédio da assessoria, Lewandowski disse que não foi sequer procurado pelo advogado.
TRECHOS
Roriz: Eu gostaria da sinceridade sobre o voto do seu sogro
Adriano: Não, V. Excelência, nenhuma... A única coisa que eu tô precisando é que ele não leve...
Roriz: Com isso aí ele não vai participar. Então é o êxito. É um voto
Adriano: É um voto
Roriz: É um êxito de certa forma, né...
Adriano: É
Roriz: Com isso eu ganho. Folgado. Pois é, ou você, minha solução, minha proposta, ou ele vira o voto ou ele não comparece?
Adriano: Ainda não, ainda não tomei medida nenhuma
Roriz: Pois é, há dois caminhos. Porque se eu ganhar, o meu ganhar o êxito, contra o voto dele... (inaudível) Se for contra... Então você perdeu, e nós mesmos ganhamos, eu ganhei, mas não foi o seu êxito...
Adriano: É, eu sei disso... Mas quando Vossa Excelência acertar ele já sabe que não vai haver o voto...