Expectativa é de real forte também em outubro
Pela primeira vez em mais dois anos o dólar vale menos de R$ 1,70. Boa parte da pressão de venda da quinta-feira foi creditada à formação da Ptax (média das cotações ponderada pelo volume) que liquida os contratos de futuros.
Tal linha de preço representava importante barreira técnica e psicológica e seu rompimento mostra, também, que o mercado não se assusta com as tentativas do governo de segurar o dólar "no grito", conforme observado ao longo do mês de setembro.
Ontem, o dólar comercial encerrou a jornada com baixa de 0,76%, a R$ 1,692 na venda (veja gráfico abaixo). Tal cotação é a menor desde 3 de setembro de 2008, quando valia R$ 1,677.
Em setembro, a moeda perdeu 3,70%. Já no terceiro trimestre, a queda foi de 6,21% (veja gráfico abaixo). E, no ano, o dólar está 2,93% mais barato.
Segundo o analista de câmbio da BGC Liquidez, Mário Paiva, o vendido (que ganha com a valorização do real) se aproveitou do vencimento e amassou o comprado (aquele que ganha com a valorização dólar).
Cabe lembrar que os grandes vendedores no mês eram os estrangeiros com uma posição de US$ 10,59 bilhões até o dia 29. Já os bancos eram os grandes compradores, com estoque de US$ 8,31 bilhões em contratos. Agora é aguardar os próximos dados da BM&F que vão permitir ver com clareza o quanto dessa posição foi liquidada e quanto foi rolada para o próximo vencimento.
Para o mês que começa, nada muda. A expectativa predominante continua sendo de valorização do real.
Segundo o economista e professor de Administração Financeira da PUC-Rio, André Cabus Klotzle, a valorização do real é um fenômeno que só pode ser contido por formas "heterodoxas" de política cambial. Entre elas, atuação no mercado futuro ou aumento de tributação para investimentos externos.
O câmbio local só responde a essas medidas mais contundentes em função da natureza dessa valorização do real.
Segundo Klotzle, há um fator conjuntural, que é a desvalorização global do dólar, capitaneada pela política monetária americana de juros zero e compra de títulos do tesouro. Estratégia que derruba o preço do dólar e estimula a tomada de empréstimos em moeda americana para investimentos em locais com taxas mais atrativas.
Há também uma questão estrutural, essa 100% nacional, que é a taxa básica de juros elevada e sem perspectiva de mudança no curto e médio prazos.
Essa taxa que faz os olhos dos gestores estrangeiros brilharem é reflexo da nossa estrutura econômica, composta, entre outras coisas, por baixo investimento público em infraestrutura, indexação contratual e multiplicidade de taxas referenciais, como a TJLP, que independe da política monetária. Soma-se a isso um firme crescimento econômico, que deixa o país ainda mais atraente ao capital externo.
O especialista ainda lembra que o país possui uma forte dependência de poupança externa. E que o mercado de capitais de longo prazo é pouco desenvolvido, obrigando as empresas e bancos domésticos a buscarem funding de longo prazo no exterior.
O problema das atuações mais fortes, explica Klotzle, é que elas são bem complexas do ponto de vista do investidor estrangeiro e geram ruídos e volatilidade indesejáveis. "Esse é um ponto que pode ter um efeito contrário ao esperado, retraindo fluxos para o país, justamente no momento em que a necessidade desse capital é de suma relevância para fechar as contas externas." |