16/08/2010 ZERO HORA
Editorial
Começa amanhã, com a propaganda eleitoral obrigatória em rádio e televisão, a fase mais importante da campanha para as eleições gerais de 3 de outubro. Amplamente esperado pelos candidatos a todos os cargos, esse período de exposição diária nos meios de comunicação de massa se transformou claramente no palanque eletrônico, numa substituição já agora irreversível do antigo modo de angariar votos, que era baseado mais em comícios nas cidades e no corpo a corpo com os eleitores. O rigor com que a lei e a Justiça tratam a arrecadação de recursos e o financiamento das campanhas faz com que a propaganda de rádio e televisão seja vista como o caminho mais eficaz para transmitir a mensagem e para tentar atrair o eleitor. Trata-se de uma propaganda que é obrigatória no sentido de que as emissoras precisam entrar em cadeia para transmitir a mensagem dos candidatos, mas não é gratuita: as empresas de comunicação recebem dedução no imposto de renda devido como compensação pelo espaço cedido. Ou seja, é um espaço financiado pela sociedade numa das muitas providências que a lei brasileira adotou para valorizar a eleição e dar importância ao voto, que é o gesto fundador das democracias.
Tudo isso amplia a importância do período que começa amanhã, ao mesmo tempo em que atribui especial responsabilidade aos usuários do espaço de propaganda obrigatória. Além de destinar-se a apresentar projetos e a revelar a biografia pessoal e política dos candidatos, o espaço dará oportunidade a que o eleitor compare os programas e tenha opções de escolha. É uma pena, neste sentido, que uma pesada carga de marketing mascare de alguma maneira a real figura dos políticos. Mesmo assim, a sabedoria do eleitor distinguirá o que é criação da propaganda do que é o retrato fiel de nossa política e de nossos políticos. De qualquer maneira, o caráter compulsório continua incomodando o público, que prefere, inequivocamente, o direito de decidir o que gostaria de assistir. Diante deste cenário, é de se esperar que candidatos e partidos tenham pelo menos o bom senso de oferecer ao público visões que efetivamente contribuam para a cidadania. A consistência das propostas, mais do que qualquer outro elemento, mais inclusive do que eventuais polêmicas, é que poderá marcar de maneira efetiva a vontade do eleitor.
Mas há uma outra tarefa dos candidatos e dos partidos nos 45 dias da propaganda obrigatória: reverter a forte perda de prestígio dos políticos em razão de denúncias de corrupção eleitoral e de outras irregularidades dos últimos anos. Por isso, mesmo como aspecto lateral, embora não menos importante, a propaganda obrigatória será também um desafio para que a classe política tente resgatar seu prestígio e reduzir o desencanto dos cidadãos. É uma tarefa que interessa à própria democracia.