29/07/2010 VALOR ECONÔMICO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu ontem o presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), Carlos Henrique Custódio, um representante do PMDB no governo, apadrinhado dos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, líder do governo no Senado.
O novo presidente dos Correios, também nomeado ontem, é o engenheiro eletricista David José de Matos, até agora secretário geral da Novacap e ex-funcionário da Eletronorte. A empresa não sai das mãos do PMDB porque David é ligado ao deputado Tadeu Filipelli (PMDB-DF), candidato a vice-governador do Distrito Federal na chapa encabeçada por Agnelo Queiroz (PT). David de Matos é também ex-presidente da Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal e ex-secretário adjunto de Infraestrutura e Obras. Exerceu esses cargos quando Filipelli comandava o setor de obras do governo de Joaquim Roriz, à época no PMDB.
Foi demitido também o diretor de Recursos Humanos da ECT, Pedro Magalhães, que será substituído por Nelson Luiz Oliveira de Freitas. E para substituir o diretor de operações Marco Antonio Oliveira, demitido no mês passado, foi nomeado também ontem Eduardo Arthur Rodrigues Silva, que já foi presidente da Variglog.
O ministro das Comunicações José Artur Filardi, em entrevista após a reunião em que comunicou a demissão a Custódio, disse ontem que não há um motivo específico para sua demissão mas a decisão já havia sido tomada, por consenso, no governo.
"Precisava mudar para dar uma oxigenada na administração", disse Filardis. Embora tenha dito que não há motivos, citou dois: a demora na definição da licitação das franquias, até hoje parada no Tribunal de Contas da União, e também de concursos públicos para contratações, já aprovados desde o ano passado.
A assessoria da ministra Erenice Guerra, da Casa Civil, confirmou mais cedo as demissões e nomeações e informou que a troca de comando se deu por uma recomendação também dela e do ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, para resolver o problema de gestão na empresa, que vem passando por dificuldades e estava sendo monitorada também pelo Tribunal de Contas da União.
A mudança da direção dos Correios, conforme havia sido acertado com o ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa, candidato ao governo de Minas Gerais, seria feita após as eleições, a partir de outubro. Foi, porém, precipitada e, uma das razões para não esperar o fim da campanha eleitoral, teria sido um problema com o site da empresa. Os Correios usaram o seu site para publicar orientação a candidatos sobre como fazer campanha, usando os produtos da empresa. O governo considerou isso uma espécie de gota d"água para caracterizar os erros de gestão.
Segundo a Casa Civil, foram várias feitas reuniões entre os ministros Erenice, Paulo Bernardo, do Planejamento, e José Filardi, das Comunicações, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para avaliar os problemas da empresa. A expectativa é de que o trabalho de reformulação dos Correios se intensifique, já que "não dava para a ECT ficar sendo administrada pela Casa Civil e pelo Planejamento", disse uma auxiliar da ministra Erenice Guerra. As exonerações e nomeações serão publicadas hoje no "Diário Oficial da União".
Em entrevista à saída do prédio do Ministérios das Comunicações, após receber a notícia de sua demissão, Custódio disse que não foi informado sobre os motivos de sua saída. Ele rebateu a tese de que o estopim teria sido o site. "O serviço de mala direta sempre existiu e seria um serviço a mais para aumentar a receita", disse, referindo-se a um dos produtos a serem usados na campanha, segundo orientação do site. Custódio foi nomeado após a grave crise dos Correios, que motivou a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) e causou sérios danos ao governo. A CPI dos Correios, de 2005, resultou na descoberta do Mensalão.
Mas a empresa, mesmo com a CPI, voltou para a mão de políticos. Custódio considera que fez um trabalho "importante" e teria conseguido eliminar os rumores de que a única solução para eliminar os problemas da empresa seria a privatização. "Cumpri meu ciclo com as melhores intenções, fiz o meu melhor, não me arrependo de nada, nenhum minuto", avaliou o ex-dirigente dos Correios.
Momentos antes de ser demitido, Custódio participou, no início da tarde de ontem, de solenidade dos 150 anos dos ministérios do Transporte e da Agricultura. Na semana passada, Custódio imaginava que poderia usar a ocasião para falar com Lula a respeito de seu plano de criar uma empresa área mista, na qual um sócio privado seria parceiro da ECT. Essa nova empresa já havia recebido o sinal verde do Ministério das Comunicações e aguardava a aprovação de Lula.
Custódio entrou no palco por volta das cinco da tarde, entregou os selos comemorativos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deixou o evento em direção ao gabinete do ministro das Comunicações, onde foi comunicado oficialmente de sua demissão. (Com Paulo de Tarso Lyra)