22/07/2010 VALOR ECONÔMICO
A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, rebateu ontem, durante entrevista ao Programa 3 a 1 da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), a TV Pública, os três pontos mais polêmicos rubricados por ela própria e que constavam do programa de governo entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE): taxação de grandes fortunas, controle social da mídia e redução da jornada de trabalho para 40 horas.
Para a candidata, propor a taxação das grandes fortunas é uma medida inócua. "Já foi tentada em outras situações e não deu certo, porque não rende ganhos para a sociedade". Segundo Dilma, a questão tributária é muito mais complexa, porque envolve, principalmente, uma sobreposição de tributos. Ela também afirmou que, no atual momento, o Brasil não pode abrir mão da arrecadação para não quebrar estados e municípios. "Fizemos uma desoneração de IPI para automóveis e linha branca e tivemos de recompor as perdas de receita de governadores e prefeitos", recordou.
Sobre o controle social da mídia, Dilma acha que "o melhor controle é o controle remoto na mão da cidadão". Ela concorda com o estabelecimento de marcos regulatórios, como a legislação que limita a 30% a participação do capital estrangeiro na mídia e o decreto que regulamenta a radiodifusão no país. "Mas eu sou radicalmente contra a censura de conteúdo. Eu jamais ligarei para uma redação pedindo a cabeça de um repórter por ter expressado uma opinião ou feito uma crítica".
Em relação à redução da jornada de trabalho para 40 horas, a candidata do PT à Presidência acha que existem alguns setores que poderiam implementar essa proposta, mas outros, especialmente as pequenas e médias empresas, teriam mais dificuldades de alterar suas jornadas. "Essa proposta teria que vir da sociedade, não tem como o governo elaborar uma proposta dessa natureza", completou Dilma.
A candidata do PT defendeu a adoção de critérios políticos e técnicos para o preenchimentos dos cargos públicos. Ela recordou que houve um momento na história recente do país que disseminou-se a tese de que os cargos públicos deveriam ser ocupados unicamente por tecnocratas. "Não é possível governar esse país sem o componente político".
Para a petista, é um erro chamar de loteamento da máquina pública as indicações políticas. "Nos Estados Unidos, quando um presidente democrata é eleito, todos os cargos de chefia e comando ocupados por republicanos são substituídos", comparou.
Dilma lamentou os ataques feitos ao PT pelo candidato a vice na chapa de José Serra, o deputado Índio da Costa (DEM-RJ). "Eu não esperava que uma trajetória como a do meu adversário gerasse isso". Em relação à possibilidade de um servidor da Receita, ligado a um sindicato, ter quebrado o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, Dilma afirmou que isso reforça o discurso daqueles que desejam desviar a campanha do debate programático.
A petista também rebateu as críticas feitas por Serra à política externa brasileira. "Não podemos fazer uma campanha presidencial analisando a situação de outros países. Só se quisermos ficar isolados ou instituir a política das grandes potências de governar com um porrete na mão".