29/06/2010 VALOR ECONÔMICO
A candidata do PT à Presidência , Dilma Rousseff, prometeu, se eleita, reduzir a zero os tributos sobre os investimentos no país, durante a gravação do programa Roda Viva, na TV Cultura, que foi ao ar na noite de ontem. "Estou me comprometendo com a redução de impostos sobre investimento para zero. Não pode ser tributado o investimento, é contra o país", afirmou.
A proposta faria parte de uma reforma tributária mais ampla, com a redução dos encargos na folha de pagamento de empresas e a unificação do ICMS dos Estados: "O sistema tributário está um tanto caótico, tem que simplificar os tributos", disse. Segundo Dilma, não haveria perdas para a arrecadação do governo federal, pois a base de contribuições deve aumentar, se a economia mantiver crescimento a taxas em torno de 4,5% a 5,5% ao ano.
Segundo Dilma, no momento de aumento de competitividade, o governo vai focalizar na desoneração do investimento. Ela citou a área de energia como umas das que deveria ter menos imposto, como o ICMS. Defendeu que qualquer medida que venha a ser tomada e que afete as finanças dos Estados ou municípios deve ter compensação, como ocorreu durante a redução de alíquotas de impostos na crise recente. Na época, os municípios foram compensados pela União e os Estados receberam empréstimo. "Tenho absoluta clareza que os governadores não gostam", disse, sobre a ideia de unificar o ICMS dos Estados.
Na folha de salários, haveria mais redução às empresas com folha de salário grande, pois haveria efeito negativo sobre a arrecadação previdenciária, caso os impostos trabalhistas fossem zerados. "Vai pagar menos imposto em áreas a selecionar, porque vamos lembrar que toda a política social é paga com impostos", disse. Sobre o imposto para grandes fortunas, afirmou que a proposta demandaria " imensa energia política".
Dilma disse não se considerar um "poste", mas vai pedir conselhos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Entendo que alguns queiram dizer sou um poste, mas eu acho que eu não sou um poste", afirmou. A candidata argumentou que apesar da falta de experiência eleitoral, tem experiência administrativa e coordenou todos os programas do presidente Lula, cuja aprovação bate os 76%.
Para a candidata, Lula pode ajudar a aprovar reformas. "Tenho clareza que o presidente participará como ex-presidente", afirmou Dilma, que foi à gravação do programa com os coordenadores de campanha Antonio Palocci e Rui Falcão e com a jornalista Clara Ant.
Dilma fez elogios à capacidade do presidente de trabalhar em equipe, pois Lula "nunca acha que resolve ou faz" e ressaltou que ela, enquanto foi do governo, fez parte do "sucesso do governo Lula".
A ex-ministra da Casa Civil defendeu uma reforma política que contemple o voto em lista e o financiamento público, com o objetivo de reforçar os partidos. Dilma sugeriu criar uma Constituinte específica para tratar da questão.
Sobre o papel do PSDB num eventual governo petista a partir do ano que vem, a candidata foi evasiva. "Se a oposição não for raivosa e de uma forma ou de outra queira desestabilizar o governo, eu acho que se pode governar com todos os partidos, se todos quiserem", afirmou. Dilma ressaltou que no início do governo Lula, em 2003, recebeu o país dos tucanos com inflação de dois dígitos, desemprego e maior desigualdade social.
Afirmou que terá como meta de governo, se eleita, erradicar até 2014 a pobreza da população que receber menos de um quarto de um salário mínimo mensal. A candidata disse que gostaria de ver o Brasil com taxas de juros reais mais baixas, mas acredita que o país caminha para isso. "Até 2014, crescendo entre 4,5% e 5,5% devemos convergir para a taxa de juro internacional", afirmou. A ex-ministra acrescentou que, pelo menos no curto prazo, é uma "temeridade" reduzir a meta de inflação para 2013 ,devido ao cenário de instabilidade internacional.
A petista reafirmou que nada sabe do suposto dossiê que teria sido feito pela coordenação de sua campanha contra seu principal adversário, José Serra (PSDB). "Se há dossiê, até hoje não vi papel nenhum, não foi feito pela minha campanha, foi produzido em outras circunstâncias", afirmou. Dilma citou reportagem do jornal "Folha de São Paulo", que diz que um jornalista trabalhou em reportagem para o jornal "Estado de Minas" sobre o assunto, mas que, segundo ela, não trabalhou para a sua campanha. "Minha campanha não contratou, o PT não contratou", disse. Sobre a quebra de sigilo fiscal do tesoureiro do PSDB, Eduardo Jorge, Dilma negou que o PT tenha alguma participação e que o partido já processou o acusador. "Não podemos aceitar acusações sem prova. Não somos nós que provamos. Quem acusa é quem prova", afirmou a candidata petista à Presidência no Roda Viva.