10/06/2010 ZERO HORA
Editorial
Um ano depois de ter se visto forçado a enfrentar o fundo do poço na área econômica, quando a queda na produção atingiu níveis jamais vistos, o país está diante de um problema inverso, inédito desde a euforia do início do Plano Real: uma expansão em ritmo chinês. Em comparação com igual período do ano passado, o primeiro trimestre deste ano registrou oficialmente uma expansão de 9%, o que já garante uma elevação de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, mesmo na hipótese, improvável, de o fenômeno estancar daqui para a frente. Como está longe de ser uma China, pois não adequou o ritmo de seus investimentos ao do crescimento econômico, o Brasil precisa encontrar formas de dosar a expansão que não se limitem à elevação da taxa de juros, de efeitos tão perversos para quem produz e para quem consome. Mesmo num ano eleitoral, quando a tendência é inversa, o poder público precisa fazer o que evitou até agora: reduzir seus gastos de forma significativa.
A conquista de uma expansão econômica nos níveis registrados até agora é um feito a ser reconhecido não apenas no Brasil, mas também entre alguns de seus parceiros mais importantes. Alguns deles só agora esboçam sinais de reação, como Estados Unidos, enquanto outros ainda parecem viver o auge da crise, incluindo muitos integrantes da Comunidade Europeia. Internamente, o trimestre de recordes favoráveis deve ser atribuído às políticas adotadas no esforço de incentivar segmentos industriais que costumam responder mais depressa aos apelos por mais produção e mais emprego. O mesmo acerto que o país obteve na tentativa de evitar a disseminação dos efeitos da crise econômica global precisará ser demonstrado agora na administração do crescimento.
Lamentavelmente, o país poderia estar melhor preparado para enfrentar esse tipo de situação se, no passado, tivesse se preocupado mais em promover reformas estruturais importantes, como é o caso da tributária e da previdenciária. Ao mesmo tempo, o Brasil investe em infraestrutura uma parcela insignificante de seu PIB, o que torna o montante discreto demais perto do chinês, por exemplo. Uma expansão sem limites da atividade econômica brasileira, portanto, poderia mais facilmente levar a uma alta da inflação e ao descontrole das contas externas, devido ao aumento das importações. Além disso, evidenciaria ainda mais fragilidades preocupantes em áreas como o fornecimento de energia elétrica e a precariedade do setor rodoviário.
O país precisa se mostrar preparado para expandir sua economia de forma sustentada, evitando fazer com que crescimento acima da média acabe se transformando em problema. Ainda que esse seja um problema bom de ser gerenciado, principalmente por parte de quem se mostrou eficiente frente à crise, a saída é assegurar as condições capazes de garantir um crescimento sustentado, sem sobressaltos, e cujos resultados possam favorecer indistintamente todos os brasileiros.
O mesmo acerto que o país obteve na tentativa de evitar a disseminação dos efeitos da crise econômica global precisará ser demonstrado agora na administração do crescimento.