26/05/2010 CORREIO DO POVO
A defesa de pontos de interesse da indústria acabou igualando os pré-candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) na avaliação de empresários que participaram de encontro promovido ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Tem muitos pontos comuns na espinha dorsal, e as divergências são de procedimentos e prioridades", avaliou Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base. Reforma tributária, redução de encargos trabalhistas e manutenção das políticas de juros, câmbio e inflação foram algumas das promessas feitas pelos três.
Nem mesmo a falta de detalhes sobre como cada um pretende conduzir temas sensíveis para a economia suscitou maiores preocupações. Horácio Lafer Piva, presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel e ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou que, se os pré-candidatos deixarem de lado a "conversa fácil" sobre temas como a reforma tributária, a campanha terá mais conteúdo. "Serra tem muita substância do ponto de vista técnico. A Dilma apresenta uma agenda que tem feito sucesso neste governo e a Marina mobiliza pelo ponto de vista ético", disse Lafer. Para Godoy, o equilíbrio de posições dos pré-candidatos assegura que a transição de governo se dará sem turbulência.
Marina Silva (PV)
- (Temos) o compromisso, sim, de que podemos fazer uma reforma tributária, mas não com falsas expectativas. Não é fácil, se fosse fácil já teriam feito. Faz 16 anos que esta questão entrou na agenda como sendo importante e estratégica. Compromissos em cima de compromissos sendo assumidos. As pessoas assumem o compromisso com a reforma, mas depois que ganham fazem a reforma do compromisso.
- No primeiro turno, a gente vota em quem acredita, em quem a gente acha que é o melhor para o Brasil. No segundo turno, a gente se desvia do pior.
- Não temos um projeto, temos colagem de obras. O PAC não é um programa, é uma gestão de obras.
- O Brasil pode mais: o problema dessa frase é que continuamos na dependência do Brasil dos recursos naturais. Mas não dá para não termos mais cuidado com as bases naturais. Se não cuidarmos da nossa produção, nosso diferencial será perdido.
- Em política econômica, não defendemos aventura.
José Serra (PSDB)
- Temos a maior taxa de juros do mundo e a maior carga tributária do mundo, entre todos os países emergentes ou em desenvolvimento. O Brasil tem a maior carga tributária de todos.
- Acredito em planejamento público. Investimento estruturante é planejamento. Não é planejamento de economia centralizada, que não funciona.
- Não posso ter um ministro da Fazenda em disputa com o presidente do Banco Central e vice-versa. Não há governo que funcione bem assim.
- Falta planejamento, qualidade de gestão e falta capacidade para fazer sequenciamento dos investimentos segundo a ordem de prioridade.
- Não entendi a explicação da Dilma quando ela defende a política cambial e de juros. Entra governo, sai governo, continuamos com os maiores juros do mundo.
- Ajudei a erguer a mesa da economia do Brasil, não vou derrubar esta mesa. O importante é que a gente olhe para frente.
- Na área federal, a obesidade dá até gosto.
Dilma Rousseff (PT)
- Sou favorável à reforma tributária.
- Assumo o compromisso porque é a reforma das reformas. Sem ela, é difícil assegurar crescimento sustentável.
- Devemos completar a desoneração de bens de capital permitindo aproveitamento imediato dos créditos de PIS, Confins, IPI, que hoje vazam e não são considerados.
- Sou a favor de ter um ministério específico (voltado a micro, pequenas e médias empresas). Dará robustez ao tecido econômico e social brasileiro.
- Há uma oposição entre custeio e investimento (no setor público) que não é real do ponto de vista da atividade e do exercício de uma política que quer elevar o investimento. Tem cortes no custeio que comprometem a política de investimento.
- A melhoria do custeio no Brasil não é tirar do custeio e dar para o investimento.
- Queremos agências (reguladoras)profissionais. Eu quero agências preenchidas com critérios técnicos, acho que isso não significa acabar com indicação política, significa exigir da indicação política critérios técnicos.