15/06/2020 Correio do Povo
Com o retorno das atividades comerciais no eixo Porto Alegre-Vale do Sinos durante o mês de maio, o que se viu foi também foi a lotação dos trens da Trensurb durante os horários de pico. Na última semana, a movimentação em nada lembrava que estamos em período de pandemia e usuários do transporte praticamente se acotovelavam em horários entre 6h e 9h e das 17h às 20h. Situação, que segundo especialista consultado pelo Correio do Povo, aumenta o risco de alguém se contaminar pela Covid-19, mesmo utilizando máscara. Apesar disso, a Trensurb afirma que a empresa está operando com a frota acima da recomendada para o cumprimento do decreto estadual do Distanciamento Controlado. A Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), órgão encarregado da fiscalização da ocupação dos trens, assegura que não há irregularidade, mas que está acompanhando a situação.
Mesmo com a aparente conformidade da situação, apontada pela própria Trensurb e Metroplan, usuários se mostram apreensivos. É o caso de uma passageira de São Leopoldo, que prefere não se identificar. Segundo ela, não é correta a situação de aglomeração que ocorre nos horários de pico. “Não sei a quem recorrer, por que não está certo tanta gente em um mesmo vagão”, afirma. O Ministério Público estadual, que poderia verificar as supostas irregularidades e o trabalho da Metroplan, não tem nenhum inquérito em curso sobre a questão.
De acordo com o Coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Rodrigo Pires, o novo coronavírus é uma doença que tem uma transmissão relacionada ao tempo e ao espaço: quanto mais tempo e menos espaço, mais risco você vai estar exposto. “De 10 ou 15 minutos a menos de dois metros de um contaminado, você está em risco. Pires informa que com máscara, uma pessoa pode até ficar perto de outra a uma distância de 1 metro, e a 2 metros sem. “Máscara é de uso obrigatório, e justamente para mitigar este risco de contágio direto, pelo menos uma distância de 1 metro. Mas se eu tocar na parte da frente da máscara e depois em uma superfície para se apoiar dentro do trem, a próxima pessoa que tocar naquela barra, por exemplo, e levá-la à mucosa da boca ou olhos, pode ser contaminar”, explica. Por isso o especialista recomenda também a importância da higienização de superfícies muito tocadas, como maçanetas e barras de apoio, além de cada pessoa ter seu álcool gel para higiene pessoal.
A Metroplan fez a última ação de fiscalização no dia 26 de maio, quando fiscais acompanharam todo o horário de pico matinal, entre 6 e 9 horas da manhã. “Os trens da série 100 e os da série 200, a legislação prevê que a capacidade de cada vagão seja de 50% da capacidade total. A capacidade projetada é de 270 passageiros por carro (vagão). Então seria possível carregar 135 passageiros. Em média há 57 assentos, então pelo menos 78 pessoas vão em pé. Aquilo que visualmente nos choca, pode não estar em desacordo”, defende o coordenador de fiscalização da Metroplan, Ricardo Barcelos, que segundo ele, os trens foram projetados para carregamento de mais gente em pé do que sentado. Ele também lembra que até não tem acontecido tantas aglomerações nas plataformas, mas destaca que elas têm surgido com mais frequência nas escadas das estações.
Sobre a frequência dos trens na faixa de maior movimentação de usuários, Barcelos afirma que a Metroplan não pode fiscalizar este quesito. A Trensurb afirma que os menores intervalos de operação estão entre 4 e 5 minutos. Antes da pandemia era de 4 minutos. A empresa respondeu em nota que está realizando o monitoramento constante da situação do sistema e posicionando trens reservas ao longo da via para que entrem em operação nos horários de pico em caso de necessidade. “Mesmo com a demanda reduzida (que tem se mantido por volta de 40% da demanda normal), a oferta atual de trens nos horários de pico (até 25 rodando simultaneamente) é muito próxima da oferta normal (até 26 trens simultâneos), sendo que, com a demanda atual, 17 trens no pico já seriam suficientes para atender o decreto do governo do estado que limita a ocupação dos veículos em 50% de sua capacidade”, afirma o comunicado. A empresa ainda pede que os usuários fiquem atentos ao uso de toda a extensão das plataformas enquanto aguardam o embarque em trens acoplados, para não haver concentração de passageiros no interior dos carros centrais dos trens. “Avisos sonoros nas estações reforçam essa orientação – além de reafirmarem a obrigatoriedade do uso de máscaras e a importância do distanciamento adequado”, informa a Trensurb. A companhia finaliza o comunicado alertando que se evite os horários de pico e que as empresas cumpram também o escalonamento de entrada e saída de seus funcionários, a fim de que se possa haver condições distanciamento seguro dentro dos trens.