08/05/2020 G1
A desigualdade econômica apresentou ligeira queda no país em 2019, com redução do indicador em quase todas as regiões. A exceção ficou por conta do Nordeste, onde a redução do número de beneficiários do programa Bolsa Família fez aumentar o nível de pobreza, como apontam os dados divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O indicador usado pelo IBGE para monitorar a desigualdade de renda é o Índice de Gini, que tem escala de 0 a 1 - quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade.
Considerando o rendimento médio mensal real domiciliar per capita, o Índice de Gini para o Brasil caiu de 0,545 em 2018, recorde da série histórica da pesquisa iniciada em 2012, para 0,543 em 2019.
De acordo com a analista da pesquisa Alessandra Scalioni, essa redução não é estatisticamente relevante, apontando para uma estagnação da desigualdade. Na análise regional, porém, houve mudanças mais significativas, sobretudo no Nordeste e Norte, que apresentaram movimentos opostos.
O Nordeste foi a única região com alta do indicador, passando de 0,545 em 2018 para 0,559 no ano passado. Já o Norte teve a redução mais significativa, caindo de 0,551 para 0,537. No Sudeste a queda foi de 0,533 para 0,527 e no Centro-Oeste, de 0,513 para 0,507. Já a Região Sul, que tem a menor desigualdade, o índice recuou de 0,473 para 0,467.
Desigualdade - Índice de Gini — Foto: Economia G1
Segundo a analista da pesquisa, ao dividir a população por faixas de rendimento foi possível observar que, na Região Norte, todas as faixas perderam renda em 2019, tendo sido mais expressiva entre as parcelas que estão no topo da pirâmide. Ou seja, a desigualdade diminui porque os mais ricos perderam mais.
Considerando apenas o rendimento do trabalho, no Norte a parcela com os menores rendimentos perdeu 6,4% da renda no ano, enquanto a parcela com os maiores rendimentos perdeu 16,2%.
“No Nordeste ocorreu o oposto do Norte. Houve ganho renda em quase todas as faixas, à exceção da primeira, que tem os menores rendimentos. Enquanto os mais pobres perderam 5%, e mais ricos ganharam 14,9%”, enfatizou Alessandra Scalioni.
A possível explicação para o aumento da desigualdade no Nordeste, segundo a pesquisadora, é o corte de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.
“A única fonte de renda que teve queda foi a de outros rendimentos, que caiu 1,5% no país, e é onde estão os programas [de transferência de renda]. E é justamente a parcela com os menores rendimentos que concentra os beneficiários destes programas.
IBGE: parcela mais rica dos brasileiros recebe, em média, 33,7 vezes mais que a mais pobre
De acordo com a pesquisa do IBGE, o número de beneficiários do programa Bolsa Família vem se reduzindo a cada ano. Em 2012, 15,9% dos domicílios brasileiros contavam com o benefício. Já em 2019 esse percentual caiu para 13,5% - 0,2 ponto percentual a menos que em 2018, quando foi de 13,7%.
Na passagem de 2018 para 2019, a Região Nordeste foi a que mais perdeu beneficiários do Bolsa Família – caiu de 28,2% para 27,6% do total dos domicílios. A Região Norte vem em seguida, com uma redução de 25,4% para 25%.
“Menos domicílios recebendo o Bolsa Família no Nordeste pode ter afetado a renda desses 10% com menores rendimentos, fazendo com que o Índice de Gini aumentasse”, ressaltou a analista da pesquisa Alessandra Scalioni.
Percentual de domicílios beneficiáriao do Bolsa Família — Foto: Economia G1
No Sudeste, o percentual de domicílios que contavam com o benefício permaneceu estável em 7%. No Sul passou de 4,8% para 4,7%, e no Centro-Oeste de 8,4% para 8,5% - ambos resultados apontando para uma estabilidade estatística.
O IBGE destacou a grande diferença de rendimento entre os domicílios que contavam com o Bolsa Família daqueles que não recebiam o benefício. O rendimento médio mensal real domiciliar per capita nos domicílios contavam com o programa foi de R$ 352, contra R$ 1 641 naqueles que não o recebiam.
A pesquisa mostrou também que, em 2019, o 1% da população com os maiores rendimentos no país ganhavam 33,7 vezes mais que os 50% com os menores rendimentos. Na comparação com 2018, houve ligeira queda dessa razão – era de 33,8 vezes.
Segundo o IBGE, este indicador se mantém entre os maiores da série histórica da pesquisa. Ele teve trajetória de redução de 2013, quando era de 31,2 vezes, até 2016, quando atingiu a menor razão da série, de 30,5 vezes, alcançando 31,2 vezes em 2017.
Um estudo realizado no ano passado, porém, mostrou que a diferença entre os extremos das classes de renda do país seria quase o dobro da apurada pelas pesquisas oficiais.