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28/12/2009 JORNAL DO COMÉRCIO
Pode ter sido mesmo um feliz ano velho
Opinião
O ano de 2009 está terminando bem melhor do que começou. Essa é a opinião generalizada dos melhores analistas. Afinal, com a crise que eclodiu em setembro de 2008 nos Estados Unidos, todos fizeram as mais sombrias previsões sobre o ano que viria e que, agora, pode-se considerar um feliz ano velho. O Brasil saiu-se bem graças a uma mistura de bons preços das commodities no início de 2009, à queda no preço do petróleo e a uma robusta reserva cambial, feita por aquele que era considerado, antes, a raposa tomando conta do galinheiro, Henrique Meirelles. Ele injetou dólares para que os contratos de câmbio das exportações/importações fossem mantidos. Os meses se passaram, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não será nada além de 1%, no máximo. Porém, se não for negativo será uma vitória da equipe econômica. O Estado pegou carona nos reflexos dos malefícios da estagnação econômica, com menos repasses da União, menos arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a queda gradativa das exportações, onde o agronegócio continua sendo o sustentáculo da economia gaúcha. No entanto, o ajuste fiscal promovido antes segurou a queda da economia estadual, da mesma forma que bons fundamentos macroeconômicos não permitiram que o Brasil desandasse além do razoável.
Como repete o presidente Lula, fomos o último país a entrar na crise e o primeiro a sair dela. Então, noves fora, o ano, economicamente, pode ser considerado razoável. Talvez mesmo bom, por causa das sombrias expectativas, repetimos. O que enxovalhou o período foram, mais uma vez, os problemas políticos e, no rastro deles, as vigarices que têm se tornado a marca registrada de brasileiros inescrupulosos no trato da coisa pública. A desfaçatez atingiu o rés do chão. Abaixo dele, impossível chegar, mesmo que, nesse momento, talvez alguns estejam tentando. As reformas, faladas e ansiadas há uma década, continuam esperando. Não tivemos mudanças na política, nos tributos e na previdência oficial. O Brasil caminha para o embretamento, quando, como sempre, o presidente da República e o governador ou governadora do Rio Grande do Sul, como outros, serão apenas os gestores dos recursos humanos. Entretanto, se o ano não foi de todo ruim, ele termina com a esperança. Esperança de que os governos gastem menos para ter mais verbas para investimentos em obras de infraestrutura.
No Estado, tivemos alguns investimentos. Haverá eleições para o Piratini e para presidente. A continuidade administrativa é fundamental. A resistência às mudanças deve dar lugar a um debate sereno. Não podemos ter máquinas públicas que continuem absorvendo todos os recursos dos impostos. É preciso avançar. Em inovação, tecnologia, em educação, em prevenção na saúde. Não é tudo, mas é a base do progresso. O ódio político deve dar lugar a posições sérias, mas sem radicalismos. O ano que se vai provou que as Comissões Parlamentares de Inquérito são instrumentos políticos desfocados do contexto prático. Quando a Polícia Federal e o Ministério Público funcionam, eles bastam para acionar a Justiça. E a Justiça que se reforme. A sensação de impunidade continua no imaginário popular, na base do “só pobre vai para a cadeia”. Isso não pode continuar. O presidente e a governadora, hoje, não diriam tudo o que pensam. Certamente pensariam mais sobre tudo o que dizem e dariam valor às coisas não por aquilo que valem, mas pelo que significam. Ambos sonhariam mais, ao entenderem que por cada minuto que fechassem os olhos poderiam perder segundos de luz. Enfim, um feliz ano velho. Até agora.