27/10/2009 JORNAL DO COMÉRCIO
Oito áudios da Operação Solidária concentraram as atenções da CPI da Corrupção na tarde de ontem na Assembleia Legislativa. O material, disponibilizado à comissão pela Justiça Federal, foi analisado em sessão fechada porque está sob sigilo. Somente parlamentares e assessores autorizados tiveram acesso à reunião, que durou cerca de 30 minutos. Logo após, foi grande a especulação em torno do conteúdo das gravações - que indicariam movimentação de empresários e de deputados para o direcionamento de licitações ou a liberação de recursos.
Parlamentares, agentes do governo do Estado, funcionários e o proprietário de uma empreiteira são citados ou aparecem como interlocutores. Frases como "chover na minha horta" e "matar a minha saudade", consideradas códigos para o pagamento de propina, também teriam sido mencionadas. "As escutas mostram a forte articulação de agentes políticos com o esquema montado para fraudar concorrências públicas. O que ouvimos hoje é estarrecedor", classificou a presidente da CPI, Stela Farias (PT). Instalada em 2007 para apurar irregularidades na merenda escolar em Canoas, a Operação Solidária também investigou fraude em obras e licitações do governo do Estado. O montante envolvido pode ultrapassar R$ 300 milhões, segundo a Polícia Federal. Para o deputado Paulo Borges (DEM), os trechos selecionados são "um deboche ao povo gaúcho". "Eles aparecem rindo do dinheiro público e do contribuinte de forma descarada". Diante das novas gravações, a oposição requisitou o depoimento do secretário de Infraestrutura, Daniel Andrade, do secretário-adjunto, Adalberto Silveira Neto, do ex-diretor do Daer Ricardo Guimarães Moura e de Woodson Martins da Silva, funcionário da empresa Mac Engenharia. O objetivo seria esclarecer alguns pontos, conforme Daniel Bordignon (PT). "Estas pessoas teriam testemunhado graves irregularidades", completou. Os diálogos também impressionaram o deputado Alexandre Postal (PMDB), que não faz parte da CPI, mas compareceu à sessão. "É lamentável que homens públicos usem seus cargos para isso. São homens influentes usando do poder que têm para interferir", comentou. A interpretação do vice-presidente da comissão, Gilberto Capoani, também do PMDB, foi diferente. "Eles estão reivindicando a realização de obras. Não ouvi a palavra dinheiro. Por acaso, não é legítimo um parlamentar requisitar obras?". Capoani afirmou ainda que apenas um trecho pode ser considerado "suspeito". "É um no qual eles falam em passar em um determinado lugar para pegar documentos". Após a escuta de interceptações telefônicas relacionadas à Operação Solidária, os deputados da CPI da Corrupção deram continuidade às oitivas. O depoimento do proprietário da empresa de guincho Atento Service, Gilmar Schwanck Justo, começou por volta das 16h. A empresa, que prestava serviço para o Detran até abril deste ano, reivindica o pagamento de uma suposta dívida de R$ 16 milhões junto ao governo do Estado. Justo, que estava acompanhada de seus advogados, Osvaldo Lia Pires e Flávio Lia Pires, negou qualquer relação com os ex-presidentes do Departamento de Trânsito - Flávio Vaz Netto e Carlos Ubiratan dos Santos - réus no processo criminal decorrente da Operação Rodin. Havia a suspeita de que o verdadeiro dono da Atento seria Ubiratan dos Santos, que foi quem contratou a empresa de forma emergencial em 2005. Justo refutou a informação. "É um absurdo. Meu pai trabalhava com guincho. Eu comprei o meu primeiro em 1980." O empresário disse ser o único proprietário da Atento e que não tem relações pessoais com Ubiratan dos Santos ou com o deputado federal José Otávio Germano (PP), ambos citados em gravações da Operação Rodin como supostos donos da Atento. Instalada na Assembleia Legislativa para investigar denúncias de irregularidades envolvendo o governo do Estado, a CPI da Corrupção vai completar 60 dias nesta semana sem alcançar os avanços esperados. O período representa metade do prazo destinado à Comissão Parlamentar de Inquérito. Ontem, mais uma vez, não houve quórum para votar requerimentos. Três deputados da base aliada estavam acompanhando a sessão, mas quando a presidente anunciou a verificação de presença, o vice-presidente Gilberto Capoani (PMDB) e o relator Coffy Rodrigues (PSDB) deixaram o plenário. Em seguida, quando não havia mais a possibilidade de votação, eles retornaram. Capoani justificou a estratégia alegando que "a oposição não quer apurar e sim fazer circo político". Na avaliação dele, os depoimentos propostos não agregam elementos novos ao caso. "Pediram a oitiva do procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo Da Camino. Será que isso é objeto da CPI?", questionou. O convite ao vice-governador Paulo Afonso Feijó (DEM) também não foi apreciado. Feijó disse, no início do mês, que estava disposto a comparecer como informante, sem a necessidade de votação do requerimento. No entanto, o documento foi apresentado para que a base aliada se manifestasse sobre o tema. "Sou contra o comparecimento dele (Feijó). Ele vai trazer informação ou fazer fofoca? Só será bem-vindo se trouxer fatos novos e provas", concluiu o vice-presidente. Com isso, na próxima reunião, marcada para amanhã ao meio-dia, não haverá testemunhos. Os deputados devem voltar a analisar documentos e áudios da Operação Solidária e, como o material está sob sigilo, o encontro será fechado.Justo nega relação com ex-presidentes do Detran
Comissão de Inquérito completa 60 dias sem deslanchar