02/09/2009 ZERO HORA
INFORME ECONÔMICO | MARIA ISABEL HAMMES
Germano Rigotto, ex-governador
Pelos contatos frequentes que vem mantendo com industriais, o ex-governador Germano Rigotto está otimista quanto à recuperação da economia brasileira. E já acha possível que, em 2010, o Brasil retome o desenvolvimento sustentado, com até 4,5% de crescimento. Só teme que o cenário mundial possa ser impactado pelo desempenho chinês, cujo crescimento vem sendo mantido pelo crédito, e, na hipótese de desacelerar, certamente terá reflexos em boa parte das nações.
Zero Hora – Você tem falado com muitos setores da economia, qual a mensagem que vem recebendo, o pior passou mesmo?
Germano Rigotto – Sim, a conclusão é de que teremos um semestre bem melhor. Nesta quinta, inclusive, terei reunião com a Associação da Indústria de Máquinas, que teve impacto grande, com produção em queda e desemprego, mas se nota um início de recuperação em muitos segmentos.
ZH – O que tem ajudado mais na recuperação?
Rigotto– Uma das questões é o financiamento do BNDES com taxa de juros de 4,5% ao ano. Isso está animando o setor e terá reflexos na Expointer, por exemplo.
ZH – E o que ainda preocupa?
Rigotto – O automotivo. A redução do IPI terminará, já houve queda de vendas e produção. O setor só sentiu a crise nas exportações e caminhões.
ZH – Mas as taxas superiores a 20% ao mês eram irreais.
Rigotto – Sim, vai haver acomodação e não será o crescimento dos últimos meses. No ano que vem, será possível o país crescer 4, 4,5%.
ZH – Existe ainda algum temor sobre o cenário econômico?
Rigotto – Estive falando com o presidente do Citibank, e ele chamou a atenção para os déficits dos países desenvolvidos. No Brasil, poderá chegar a 3% do PIB, mas, nos EUA, a 14%. Isso poderá determinar turbulências futuras. Assim, para ele, não pode haver só otimismo, então.
ZH – E a questão China?
Rigotto – Existe preocupação com a China, pois o crescimento de lá está se dando em cima do mercado interno, impulsionado pelo crédito. Isso pode não se sustentar, o que geraria um desaquecimento, com um aumento forte da inadimplência. Aí fica a interrogação, já que a China, junto com os EUA, é o grande motor da economia.
ZH – Hoje a Assembleia vota os incentivos para a GM? O pacote de bondades do governo à montadora é justo?
Rigotto – Não analisei o projeto, mas, nesta guerra fiscal absurda, se não dermos incentivos, perderemos investimentos. Veja o que está acontecendo: São Paulo reduziu a zero o ICMS da carne industrializada, Paraná está dando sua resposta e Santa Catarina zerou para a carne suína.
ZH – Por que não há um freio à guerra fiscal?
Rigotto – Deve ser limitada, mas está congelada no Congresso.
ZH – Alguma expectativa quanto à reforma tributária?
Rigotto – Nenhuma. O Congresso não produz e está envolvido em denúncias, é uma vergonha o que está acontecendo com o meu partido. As reformas, como a política, tributária e revisão do pacto federativo, nesse cenário, não avançam. Também há o caso de governos que não querem limitar a guerra fiscal e colocam a corrida eleitoral de 2010 à frente de tudo. O próprio Executivo tem outras prioridades, como, agora, o pré-sal.
ZH – O governo passou mais de um ano discutindo o pré-sal e, agora, o Congresso tem só três meses para debater os quatro projetos. Não existe incongruência?
Rigotto – Poderá haver prorrogação do prazo se for necessário. A questão da distribuição dos royalties será muito discutida, não vai continuar igual. É bom ficar atento, pois veremos um jogo de braço forte.
ZH – Além do fundo, o Estado pode ter outro benefício do pré-sal?
Rigotto – O Estado precisa apostar na prospecção do gás na bacia de Pelotas, que necessita de investimentos da Petrobras. É claro que a preocupação maior será o pré-sal, talvez deixando de lado outras questões.