31/01/2011 AG
O economista Lawrence Summers, que até o mês passado comandou a resposta do governo Barack Obama à pior crise dos Estados Unidos desde a Grande
Depressão, nos anos 30, engrossou o coro dos entusiastas em relação ao futuro do Brasil, ao prever,
em entrevista ao GLOBO, que o Brasil “vai realmente emergir como lider do Bric” (grupo que reúne
Brasil, Rússia, Índia e China) nos próximos anos. Ele disse também que a transferência do poder
econômico dos países ricos para os emergentes vai ser “a grande história econômica” deste período.
Mas alertou que essa mudança terá que ser administrada com cuidado, se a ideia for beneficiar a
todos — ricos e emergentes. Summers deixou o cargo de diretor do Conselho Econômico da Casa Branca
em dezembro e diz que, pela primeira vez em anos, está otimista em relação ao seu país. Ele voltou
para a Universidade de Harvard, onde é professor.
O GLOBO: Economias ocidentais estão endividadas, enfrentando planos de austeridade e desemprego. Já
os emergentes estão crescendo muito. Como o senhor vê essa mudança no equilíbrio de poder mundial?
Como uma boa coisa ou como um risco?
LAWRENCE SUMMERS: Há uma mudança significativa, uma mudança fundamental na economia global, com
poder econômico e massa (econômica) se transferindo dos países industrializados tradicionais para
os mercados emergentes. Esta vai ser a grande história econômica deste período na História global.
Mas vai exigir uma administração muito cuidadosa (da transição), para beneficiar todos os
envolvidos (ricos e emergentes). Estou otimista de que, com boa vontade e cooperação, isso pode ser
alcançado.
O GLOBO: O G-20, grupo que reúne as principais economias do planeta, é o melhor fórum para
administrar esta transição?
SUMMERS: O G-20 vai achar o seu caminho com o tempo, mas acho que é um grupo promissor, que mostrou
valor considerável no encontro de março de 2009, quando decidiu a estratégia global para combater a
crise financeira.
O GLOBO: Não há o risco de o grupo se transformar, de fato, em um G-2, com Estados Unidos e China
decidindo?
SUMMERS: Não acredito nesse risco. Obviamente, Estados Unidos e China são as duas maiores
economias, mas ambos estão comprometidos a fazer parte de um processo multilateral.
O GLOBO: Como o senhor vê a guerra cambial (na qual países usam instrumentos para manter suas
moedas desvalorizadas frente ao dólar para elevar a competitividade de suas exportações) que o
mundo vive hoje? Como pode ser resolvida?
SUMMERS: Eu não sei se há uma guerra cambial. Portanto, não vou falar sobre uma solução para isso.
O GLOBO: O Brasil está muito preocupado com isso, e a moeda brasileira está sobrevalorizada.
SUMMERS: Temos visto um maior monitoramento e mais diálogo nestas questões, tanto no Fundo
Monetário Internacional (FMI) como no G-20.
O GLOBO: O Brasil tem uma nova presidente, Dilma Rousseff. Como o senhor vê o país?
SUMMERS: Acho que o Brasil vai realmente emergir como um líder do Bric (grupo que reúne Brasil,
Rússia, Índia e China) nos próximos anos. Todos que estão observando a economia global nas últimas
décadas têm de estar muito impressionados com a emergência do Brasil nos últimos anos.
O GLOBO: Muitos países emergentes, como o Brasil, estão sofrendo pressões inflacionárias. Isso deve
ser um motivo de grande preocupação?
SUMMERS: Eu acho que é uma preocupação. Parte disso está acontecendo por causa dos mercados de
"commodities" (matérias-primas). Em parte, isso se explica pelas condições financeiras e, claro,
pelas taxas de câmbio. Flexibilidade é a melhor forma de lidar com isso.
O GLOBO: Qual é o futuro do euro?
SUMMERS: Eu não vou prever o que vai acontecer com as moedas.
O GLOBO: E a economia americana?
SUMMERS: Pela primeira vez, em muitos anos, estou otimista.
Texto de Deborah Berlinck, Enviada especial