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05/05/2009 JORNAL DO COMÉRCIO
Fundo do poço aparece e queda econômica se estabiliza
Opinião
O primeiro trimestre, conforme os melhores analistas, foi mesmo o pior da crise financeira, que se agravou a partir de setembro de 2008. O fundo do poço das agruras foi enxergado, a queda livre acabou e há uma certa estabilidade dos negócios. A partir daí vem a recuperação. Lenta, gradual e demorada. Porém sempre uma recuperação. A China, pelo segundo mês consecutivo, é o maior importador do Brasil, com a nossa balança comercial tendo superávit recorde, e a construção civil nos EUA dá sinais de retomada. As bolsas subiram, com o Ibovespa atingindo + 6,59% ontem. A pesquisa Focus reestimou uma queda menor do PIB em 2009, com os juros ainda em queda.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, conseguiu não apenas acalmar o mercado financeiro do País como colocou o Brasil no mapa da reorganização global do sistema bancário. Diz-se - e a versão sempre é mais atraente do que o fato - que o presidente Lula chegou a pensar em demitir Meirelles, por conta dos juros praticados pelo Copom. O empresariado, as centrais sindicais e os setores da mídia clamavam por uma Selic menor do que a então praticada. Mas, indiferente ao clamor, Meirelles dizia que a meta era ter uma inflação comportada. Isso ele conseguiu, é um fato. No entanto, adveio a derrocada do crédito nos Estados Unidos e na Europa, chegando à China e no Brasil. Depois do encontro em Washington entre Barack Obama e Lula da Silva, os detratores de Meirelles repensaram preconceitos contra Meirelles.
Aliás, não se precisa ser nenhum expert financeiro para se chegar à óbvia conclusão de que quem atinge a presidência mundial de um banco transnacional estadunidense é porque tem grande competência. Por isso, o Brasil foi convidado a integrar o Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (BCBS, na sigla em inglês para Basel Committee on Banking Supervision), com sede na Suíça. Também foram convidados Rússia, Índia, China, Austrália, México e Coreia. A decisão atende à proposta do grupo de países em desenvolvimento, o G-20, que reivindica há tempos a revisão dos critérios de associação aos mais importantes órgãos formuladores de padrões de regulação financeira.
O Comitê de Basileia promoverá as práticas de supervisão e de gerenciamento de riscos mundialmente. Os presidentes dos bancos centrais desses países passam a ter representação de governança no comitê, que até então era formado por Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Suíça, Bélgica, Luxemburgo, Países Baixos e Japão. O convite ao Brasil é reflexo da qualidade da regulação e supervisão do nosso sistema financeiro, segundo o Banco Central. Por isso, o Brasil foi convidado a integrar também o Fórum de Estabilidade Financeira. Barack Obama quer maior vigilância sobre os chamados paraísos fiscais. Busca-se uma estabilidade internacional por meio do intercâmbio de informações. Além do Brasil, também foram convidados a fazer parte do fórum outros países do G-20, como África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, China, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia.
Como disse o presidente Lula, a reunião do G-20, em abril, em Londres, não deveria ser apenas mais uma para marcar uma outra. Dela saíram soluções que apontaram caminhos para a volta da normalidade do crédito e do comércio mundial. Mas isso só será obtido a partir do segundo semestre e, mais ainda, em 2010. A regulamentação que era e é exercida no Brasil pelo Banco Central sobre o sistema bancário, considerada um exagero, hoje prova ser consistente. Quem era, e ainda é, contra Meirelles, que trate de reconsiderar suas ideias.