29/04/2009 DCI
Embora os impactos da crise financeira tenham respingado por todo o Brasil, os efeitos tiveram comportamento desigual entre os 26 estados e o Distrito Federal. Segundo estudo, divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV projetos), o Sul do País, seguido pelo Norte e pelo Sudeste, apresentou os maiores índices de suscetibilidade frente aos desdobramentos da crise. A principal característica do resultado do desaquecimento sobre as economias locais, porém, é a diversidade, diz o coordenador do trabalho, Fernando Blumenschein.
Essas diferenças regionais estão presentes na análise tanto dos indicadores macroeconômicos - emprego, exportações, fluxo de crédito e vendas do comércio - quanto nos fiscais - arrecadação federal, IPI e ICMS - usados no estudo. Segundo Blumenschein, os impactos da crise se distribuem de maneira distinta por variações do ambiente macroeconômico, devido às diferenças em suas características sociais, produtivas, financeiras, de dotação de recursos e particularidades geográficas.
Por exemplo, enquanto Tocantins foi o estado que mais acumulou perdas em suas exportações (-75,9%) no período de setembro de 2008 a março deste ano, Mato Grosso viu este indicador crescer 10,30% em sua receita, no mesmo período. Em relação ao comparativo regional, a maior queda nas exportações foi sentida no Sul (30,7%). Já a retração na arrecadação do Impostos Sobre Produtos Industrializados (IPI) mostrou-se de forma mais expressiva no caixa do governo de Minas Gerais (-40,9%). O estado do Piauí, ao contrário, obteve o maior incremento com a medida (10,9%).
Na apuração da arrecadação federal - descontados o IPI e as transferências constitucionais -, o Maranhão foi o estado que amargou o maior prejuízo, com o recuo de 15,3% desde o começo da crise a março deste ano; o Distrito Federal, em contraponto, cresceu 5,8% no bolo da arrecadação federal. Para o Imposto Sobre Circulação de Serviços e Mercadorias (ICMS), o Amazonas é o campeão de perdas (-15,09%), seguindo por Rondônia (-15,07%).
No item 'fluxo de crédito', o Tocantins aparece novamente como primeiro no ranking de retração (-46,8%). O único estado no País a crescer dentro deste indicador foi Roraima (4,68%).
Para o quesito emprego, Amazonas (-5,2), Minas Gerais (-3,8%) e São Paulo (-1,9%) tiveram os piores desempenhos. Alagoas registrou o melhor resultado e, de setembro de 2008 a março de 2009, o emprego formal no estado aumentou em 8,5% . Entre as regiões, o Nordeste foi a única que registrou crescimento neste indicador, enquanto as maiores desacelerações na criação de vagas de trabalho formal foram verificas no Sudeste (-3,3%) e Norte (-3,15%) do País.
Segundo o estudo da FGV Projetos, o indicador de vendas de comércio, embora tenha forte fator de sazonalidade, aponta que todas as regiões tiveram uma queda líquida comparados os períodos de setembro de 2007 a março de 2008 e setembro de 2008 a março de 2009. O varejo amargou os piores prejuízos no estado paraibano (-11,6%).
Para o Blumenschein, caso a crise financeira se intensifique em profundidade e prolongamento, essas diferenças vão pesar sobre as discussões já existentes a respeito do pacto federativo, aumentando os conflitos entre os estados. Além disso, as diferenças na forma como os estados estão sentindo os efeitos da crise pode abrir espaço para governadores pedirem mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). "A diferença entre regiões é significativa, mostrando que a crise está afetando de forma diferente as cinco regiões do país no geral".
Blumenschein chama atenção para o fato de que entre os dois períodos apurados no estudo (março 2007/ setembro 2008 e março 2008/ setembro de 2009), em todos os indicadores e regiões, a performance do segundo período foi inferior a do primeiro.
O índice de suscetibilidade em relação a média nacional dos estados, criado pelo estudo, aponta o Amazonas como aquele em situação mais preocupante, seguido do Maranhão e de Minas Gerais. O inverso, aqueles em condições mais favoráveis de resistência aos efeitos da crise, são Roraima, Paraíba e Acre.