07/05/2020 GaúchaZH
Vizinhos na Região Sul, Rio Grande do Sul e Santa Catarina apresentam comportamentos distintos quando são observados os números da covid-19. O Estado vizinho tem o dobro de incidência de coronavírus. São 34 infectados para cada 100 mil habitantes catarinenses, frente a 17 para a mesma proporção de gaúchos.
O governador Carlos Moisés foi um dos primeiros a anunciar medidas de distanciamento social no país, mas o início da liberação das atividades econômicas a partir de 13 de abril e a reabertura shoppings, no dia 22, coincide com o avanço da doença: são 2.795 casos confirmados, dos quais 113 pacientes estão na UTI. Até agora, 58 mortes foram registradas. A taxa de letalidade em SC (2%) é menor do que a gaúcha (4%). No Rio Grande do Sul, até 5 de maio, eram 2.019 casos, 92 pacientes em leitos de alta complexidade e 83 mortes.
Ao mesmo tempo em que a doença avança, SC trocou o comando de enfrentamento a pandemia por suspeitas de irregularidades. Helton de Souza Zeferino pediu exoneração do cargo de secretário de Saúde um dia depois da Assembleia Legislativa aprovar por unanimidade um pedido de afastamento imediato devido a indícios de irregularidades na compra de 200 respiradores artificiais por R$ 33 milhões. O valor já foi pago à empresa fornecedora mas os respiradores ainda não foram entregues. Na terça-feira (5), o ex-secretário adjunto, o médico gaúcho André Motta Ribeiro, natural de Cacheira do Sul, assumiu a pasta.
— Estamos aqui para dar continuidade ao trabalho altamente qualificado realizado até aqui. Vivemos um momento de adversidade e todo o foco precisa estar em expandir a nossa rede hospitalar para que nenhum catarinense fique sem o tratamento adequado — disse na posse.
A doença avança especialmente no sul catarinense, que já registra 584 casos e 18 óbitos, e na Grande Florianópolis, que tem 523 casos e 12 mortes. A superintendente de Vigilância em Saúde do Estado Raquel, Ribeiro Bittencourt, afirma que ainda não é perceptível crescimento exponencial de casos relacionados com a flexibilização da quarentena. Segundo ela, a disparada dos casos em diversas cidades se deve à utilização de testes rápidos adquiridos pelos municípios:
— Uma preocupação é com o Dia das Mães que se a aproxima e a grande procura das famílias por restaurantes. Estamos redobrando a fiscalização neste momento.
A Vigilância Epidemiológica gaúcha informou que está atenta ao movimento de pessoas na divisa entre os Estados para prevenir eventuais surtos do coronavírus e evitar uma disseminação maior da doença. Desde 1º de abril, está proibido o ingresso e a circulação, em todo o território do Rio Grande do Sul, de veículos de transporte coletivo de passageiros, públicos e privados, vindos de outros Estados ou de países.
Na contramão das demais cidades catarinenses, a prefeitura de Florianópolis foi a única que segurou o comércio fechado por mais uma semana, depois que Moisés liberou a abertura total do comércio. O prefeito Gean Loureiro tem adotado uma postura mais cautelosa ao abordar o tema e não descarta novas restrições se os números indicarem piora nos casos na Capital.
— Ainda é prematuro dizer que a abertura do comércio refletiu no aumento de casos. Mas é notório que toda eliminação de restrição amplia a contaminação. A decisão não pode ser tomada com base na pressão de setores, mas de conhecimento técnico. Foi por isso que Florianópolis entendeu que quando houve liberação do Estado, se mantivesse as restrições aqui. Santa Catarina testa muito menos que Florianópolis e vem numa crescente de números de casos. O tempo tem mostrado que as decisões tomadas aqui nos trouxeram um cenário mais positivo — disse Loureiro em entrevista à Rádio Gaúcha na terça-feira (5).