14/02/2020 Correio do Povo
A demonização do serviço/servidor público merece alguma reflexão. Fala-se em governos falidos e inchados, atribuindo ao excesso de funcionários a falência do Estado. E parcelas formadoras de opinião e bem colocadas na vida parecem concordar com isto. É um massacre e explico o porquê. Primeiro porque a folha de pagamentos do Estado é composta basicamente por três áreas: educação, saúde e segurança. Queremos menos profissionais de saúde atuando para a população mais carente? Queremos menos professores dando instrução para uma massa de alunos que não têm acesso ao ensino privado? Queremos menos policiais militares e civis atuando nas ruas, na investigação de crimes e em presídios? Sabem por que a despesa não cabe na receita? Porque editamos uma Lei Kandir (e depois a constitucionalizamos) que retira cerca de R$ 5 bilhões por ano da receita do Estado. Porque o RS tem mais de R$ 11 bilhões em renúncias fiscais oriundas de determinados setores/produtos que não são tributados, o que nos causa estranheza e perplexidade pela natureza de muitos deles, como por exemplo, a indústria dos agrotóxicos. Porque assinamos uma renegociação da dívida que se mostrou criminosa ao longo do tempo, fazendo com que ela seja interminável. Porque governantes irresponsáveis criaram enormes passivos em precatórios. São apenas alguns exemplos. Por fim, cabe ressaltar a nossa excelência em diversos setores do funcionalismo. Temos excelência nos fiscos, no Judiciário, no Ministério Público e Tribunais de Contas, entre outros. Temos uma Polícia Federal investigativa e muito bem treinada, um programa de renda que proporciona um pouco de dignidade a milhões de brasileiros sem condições de competir no acirrado mercado de trabalho. Temos um serviço gratuito de saúde, o SUS. Apesar de pouca estrutura para o serviço, é reconhecido como o melhor do mundo, não há nada semelhante em outros países. Possuímos centros de excelência no combate ao câncer, como no Hospital Conceição, por exemplo. Então, quando pensares em chamar os servidores de “parasitas” ou dizer que o Estado não lhe dá nada, reflita. É uma injustiça contra milhares de pessoas que trabalham ou trabalharam para você.