12/03/2009 ZERO HORA
EDITORIAL
Sob o impacto da confirmação, na véspera, de uma profunda e acelerada queda de 3,6% no quarto trimestre do ano passado, em comparação com o anterior, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou ontem por uma redução mais elevada da taxa básica de juros, baixando-a em 1,5 ponto percentual. Infelizmente, o patamar de 11,25% segue elevado e a decisão de acelerar as quedas ocorre no momento em que já soou o alerta vermelho. O país, cujo crescimento econômico, em dezembro, era estimado em até 3,5% pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, corre o risco até mesmo de fechar com uma queda no Produto Interno Bruto (PIB), que a equipe econômica precisa se mostrar capaz de evitar ou, pelo menos, de abreviar seus efeitos.
Não fosse a aguda contração da atividade econômica registrada nos últimos três meses do ano, a economia brasileira teria fechado 2008 com a maior taxa de crescimento em duas décadas, e não apenas com um percentual superior a 5%. A brusca reversão do maior ciclo de crescimento sustentado da economia brasileira desde o Plano Real desfaz a ideia de que o país estava imune ao impacto da crise internacional. Entre 37 nações analisadas, em apenas cinco – Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Indonésia e Estônia – a atividade econômica se estreitou de forma tão acentuada ou mais rápida do que no Brasil. O resultado frustrante complica o desempenho do ano anterior e do atual, pois a economia precisaria avançar 1% a cada trimestre para fechar em dezembro com algum avanço. E isso sem recuo de janeiro a março, o que confirmaria uma indesejável recessão técnica.
Não há mais como insistir no otimismo: o país foi afetado, sim, pela retração global e agora precisa correr para deixar o prejuízo para trás, com um plano articulado e ações tão impactantes quanto o legado de uma crise que é global, mas já se instalou internamente. As medidas esparsas adotadas até agora não conseguiram evitar o encolhimento acentuado da atividade produtiva e o país só não está numa situação pior porque sua economia tem fundamentos sólidos, que podem colaborar para uma reativação rápida, se houver um plano consistente nesse sentido.
Chama a atenção nos dados confirmados oficialmente que uma das razões para a derrubada do PIB foi uma queda acentuada no consumo das famílias, diante das incertezas em relação ao emprego. Em compensação, os gastos do setor público com o custeio da máquina administrativa aumentaram, o que é um contrassenso. Num momento crucial para assegurar a continuidade do crescimento, o país precisa se comprometer com uma redução urgente da carga de juros e dos impostos. Mas é importante, sobretudo, que aprofunde a austeridade, economizando recursos para impulsionar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que no ritmo atual não se mostrou capaz de evitar uma contração na atividade econômica como a registrada agora.