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Artigo | COP 26 E O PAMPA

15/10/2021

O que nós, gaúchos e gaúchas, podemos esperar da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 26), que será realizada entre 31 de outubro e 12 de novembro na Escócia?

O evento deve avaliar a validade das metas e o cumprimento dos compromissos das nações do mundo para a redução dos Gases de Efeito Estufa, responsáveis pelas atuais mudanças climáticas, fortemente impulsionadas pelas ações humanas desde a revolução industrial, conforme aponta o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Lamento se a minha opinião a seguir desapontar algum leitor, mas, por honestidade intelectual, sou obrigado a concluir, mesmo contra minhas próprias expectativas de gaúcho que ama o Rio Grande, que façanhas apresentadas por aqui não devem servir de modelo a qualquer parte da Terra. Vide nossas contas públicas, de um estado altamente endividado que isenta exportações de soja do pagamento de ICMS. Impactamos nossos recursos naturais com toneladas de venenos agrícolas, exportamos nossa preciosa água junto a essa planta originária da Ásia, e pouco ou nenhum emprego de qualidade é gerado no campo. A propósito, campos que se concentram cada vez mais nas mãos de poucos, em um modelo econômico e social ecocida.
 
O bioma Pampa tem sofrido com a destruição de campos nativos, tão importantes quanto as florestas para o equilíbrio climático. Pesquisas apontam que restam poucas florestas e quase metade do nosso solo é ocupado pela agropecuária. Como resultados práticos, temos, de um lado, comemorações frequentes por boas safras, isenções fiscais a exportadores e, de outro, sofrimento por desemprego, fome, déficit habitacional e recursos naturais mal cuidados.
 
Não estaremos livres de um futuro mais carbonizado se os discursos “verdes” não se tornarem práticas verdadeiramente ecológicas, implementadas na urgência que a situação exige. Discurso que não se converte em ação positiva não passa de maquiagem verde para encobrir a face cadavérica da poluição. Outro exemplo prático: o governo gaúcho disse que “não vai sair” o que poderia vir a ser a maior mina de carvão mineral a céu aberto da América Latina, mas não encaminhou o arquivamento definitivo.
Para que a COP 26 produza algum efeito positivo no Pampa, a visão ecológica precisa incidir prioritariamente sobre as políticas públicas e interesses do mercado.
 
Artigo publicado originalmente no jornal Zero Hora em 12 de outubro de 2021.

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