01/07/2011 VALOR ECONÔMICO
Autor(es): Fernando Travaglini | De Brasília
O cenário de forte incerteza internacional foi a principal razão que levou o governo a manter inalterada a meta de inflação para 2013, em 4,5%, com uma banda de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, conforme antecipou o Valor na semana passada. O patamar permanece o mesmo desde 2005, com o intervalo de tolerância estável desde 2006.
Segundo Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o objetivo é que no futuro o país possa caminhar para um patamar mais baixo de inflação, mas o momento não é o mais "adequado" para iniciar esse movimento.
"A determinação do governo é manter a inflação controlada, por se tratar de um assunto extremamente relevante para o país, preferencialmente dentro do centro da banda, e enveredar esforços importantes na direção, obviamente, de menores inflações no futuro. Mas o ambiente internacional não é o mais adequado", disse Holland, em entrevista coletiva, após divulgar a manutenção da meta.
Ainda de acordo o secretário, a decisão, unânime, do Conselho Monetário Nacional (CMN), pretende garantir a "flexibilidade necessária" para a implantação da política monetária. "Essa recomendação tem como objetivo garantir o controle inflacionário e dar a flexibilidade necessária de política monetária, de forma compatível tanto com o potencial produtivo da economia quanto com o cenário de incertezas originárias do ambiente internacional", acrescentou.
Essas incertezas oriundas do mercado externo, de acordo com Holland, estão ligadas tanto à recuperação do sistema financeiro dos países desenvolvidos como também ao processo de ajustamento fiscal dessas economias avançadas, que ainda prossegue. Ele avaliou ainda que, do lado externo, há menos otimismo em relação à recuperação das economias mais avançadas, mas com perspectiva de preços das commodities seguirem em alta. "Persiste ainda algum risco, advindo do mercado de commodities internacional."
Holland destacou ainda o que considera ser as vantagens do sistema de metas, como a flexibilidade em ambiente de choque de oferta, com uma banda de dois pontos percentuais para cima e para baixo justamente para esse fim. Ele ressaltou ainda a força do modelo para "ancorar as expectativas" dos agentes.
Na visão do secretário, o sistema de metas é "exitoso", pois desde 2005 o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) permanece dentro da banda de tolerância. "As últimas pesquisas e o Relatório de Inflação do Banco Central apontam que os índices de inflação para 2011 e 2012 continuam dentro das bandas de tolerância. Se confirmadas, serão oito anos de cumprimento da meta", disse Holland, que afirmou que a inflação doméstica desacelera desde maio.
O Brasil persegue a mesma meta de inflação há nove anos. A equipe econômica do governo chegou a pensar em reduzir o alvo para 4% ou 4,25%, como forma de sinalizar ao mercado o firme compromisso de reduzir a inflação nos próximos anos. A ideia, no entanto, foi descartada pois o governo considera que essa decisão só poderia ser tomada num ambiente de inflação em queda. Além disso, há uma preocupação em não comprometer o crescimento econômico, já que metas mais baixas poderiam exigir juros mais elevados.
A manutenção do centro da meta de inflação em 4,5% para 2013 já era esperada pelos analistas econômicos.